ETA e terrorismo

Após mais de três décadas de terrorismo a organização separatista ETA anunciou, a partir de hoje, tréguas definitivas.

As bravatas do Sr. Aznar, aquele que quis comprar a mais alta condecoração americana e foi cúmplice da invasão do Iraque, não ajudaram a facilitar o clima de confiança que era urgente para pôr termo à espiral de violência que dilacerou Espanha.

A ETA deixou de matar, há algum tempo, mas as bombas não deixaram de ouvir-se. A renúncia à luta armada, sem prejuízo da vigilância que o Estado espanhol não deixará de fazer, é uma excelente notícia para quem ama a paz e preza a democracia.

Há imensas vítimas e muito luto por fazer das mortes causadas pela ETA, mas também há uma torrente de sangue ainda maior provocada pela guerra civil, primeiro, e pela violência assassina do ditador Franco, depois.

A Espanha merece a paz.

De pouco valem os votos do Ponte Europa, mas aqui ficam. Sinceros e profundos.

Comentários

Anónimo disse…
Vendo a coisa à distância a que está, provavelmente a única palavra lúcida a proferir sobre o assunto é a que ouvi um dia, há 30 anos, já não sei onde: ´´muito mal terá feito madrid à terra basca, para que ela lhe responda desta forma´´.
Anónimo disse…
A questão relativa à ETA é, no contexto político espanhol, um problema crucial. Primeiro, no que diz respeito à questão da violência e depois, no contexto político global, relativamente ao problema das nacionalidades (autonomias) que, não sendo uma questão exclusivamente basca, atinge o cerne político e administrativo, isto é, o campo constitucional.
Deste modo, a comunicação (não uma proposta) de um “cessar-fogo permanente” tem de ser politicamente valorizada. Compreende-se as reservas e as cautelas do governo espanhol mas por detrás das suas declarações não é difícil pressentir aquilo que na gíria dos gestores se chama: “uma janela de oportunidade”.
Quando, há relativamente pouco tempo, Zapatero previu o “princípio do fim” da ETA, enquanto grupo separatista armado, a Direita troçou, manifestou-se e escarneceu. Pior, insinuou que o governo estaria numa rota “capitulacionista”. Este assunto foi inclusive o “bombo de festa” do recente congresso do PP espanhol onde, a despropósito, o Sr. Aznar e o Sr. Mariano Rajoy debitaram diversas “postas” sobre terrorismo, no sentido de “assustar” os espanhóis.
Zapatero – certamente na posse de informações concretas - intui que a ETA tinha iniciado um importante debate questões de estratégia política, entre elas o fim da violência, e pressiona publicamente nesse sentido. A Direita (entenda-se o PP), sobe o tom de voz e faz tudo para pressionar a opinião pública e o governo, no sentido de este enveredar por políticas securitárias. Como se a “questão ETA” fosse um caso de polícia.
A comunicação da ETA gera um intrincado problema político para o governo espanhol. Uma prudente e atenta interpretação do comunicado da ETA revela muito mais do que o abdicar da luta separatista. Este lança importantes contributos para a solução de um velho problema espanhol – as nacionalidades. Estão, no concreto, criadas as condições para o diálogo, que deverá ser aberto e franco. A hora é de reconciliação embora sejam de prever inúmeras dificuldades. Uma delas, senão a mais importante, diz respeito aos estigmas e as sequelas decorrentes das acções violentas praticadas pela ETA e, entre estas, os crimes de sangue.
A Direita vai tentar aproveitar-se destas dificuldades e objectivamente perturbar a caminhada de reconciliação.
Os “etarras” vão ser apodados pelos PP’s de terroristas, assassinos e outros mimos, isto é, numa hora de inflexão, politicamente provocados. Vão, com certeza, ser acusados de que esta é a 10ª vez que propõem tréguas, mas a Direita vai “esquecer-se” de tirar ilações do significado de tréguas permanentes. O ultra-radicalismo nacionalista basco politicamente enfraquecido, neste momento político, vai ser invectivado para cometer erros. O PP vive (sobrevive) daquilo a que podemos chamar a “exaltação de Castela”. Qualquer nacionalismo, seja basco, catalão ou galego, é suspeito e perigoso. O PP não sabe (nunca soube) lidar com identidades. É avesso à integração de uma forte componente cultural na actividade política. Gosta mais do bastão e do cacete. Adora proibir.
Mais, o PP precisa da existência de uma ETA armada e violenta para a eficácia sua luta política que, em larga medida, se baseia no medo. Mostrou isso na tragédia de Atocha. Tentou “enrolar” os espanhóis atribuindo falsas responsabilidades à ETA. Correu-lhe mal, mas não aprendeu.
Neste momento crítico vai tentar interferir de novo e boicotar a reconciliação. Vai apelar ao castigo da ETA. Vai exigir a humilhação da ETA em nome da segurança, do patriotismo balofo e dos “valores nacionais”… etc. Coisa que não pratica no seu seio em relação aos falangistas que diligentemente alberga e protege, muitos deles também com crimes de sangue às costas.
Estou convicto que, os tempos de hoje e do amanhã, em Espanha, são efectivamente de RECONCILIAÇÃO!
É neste terreno que deve desenrolar-se o combate político da Esquerda. Esta é uma enorme oportunidade política. O tempo da PAZ. Agora a reconciliação, em terras bascas, passa também pela possibilidade de os ideais nacionalistas e de autodeterminação do povo basco terem expressão política. Essa expressão deve passar, nem mais nem menos, pela legalização do braço político da ETA – o partido Herri Batasuna, excluído da vida política pública basca pelo governo Aznar.

Finalmente a RECONCILIAÇÃO acontecendo…será uma flagrante derrota da Direita!
Anónimo disse…
e-pá! das 2:27
É sempre muito útil ouvir de novo uma palavra lúcida sobre o assunto.
Mesmo que seja 30 anos depois.
Duplamente grato

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