Ramalho Eanes e Marcelo Caetano

Vi hoje na comunicação social que Ramalho Eanes participou na missa do centenário de Marcelo Caetano.

Talvez os crentes sintam necessidade de sufragar a alma de um ditador. Alguns, porém, por pudor, deviam rezar em casa e, por respeito ao passado, abster-se de uma reverência que os torna indignos das funções que ocuparam.

Ramalho Eanes não foi aluno nem amigo de Marcelo Caetano. Deve ao Movimento das Forças Armadas, que destituiu o ditador, ter-se transformado de obscuro coronel onde passaria à reserva (não era dos melhores alunos do curso da Academia Militar) num respeitado Presidente da República.

Não sei se o Opus Dei obriga os membros e simpatizantes à humilhação pública.

A presença de Eanes na missa de Marcelo Caetano é uma afronta aos que derrubaram o fascismo e aos que alguma vez lhe confiaram o voto.

Comentários

Anónimo disse…
Caro CE
Quando se é, ou se faz por ser independente, abrangente, corre-se o risco de levar pancada de várias direcções.
Tenho presente p.ex, uma capa da revista "Gaiola Aberta", com o então PR na capa e na figura do mártir S. Sebastião da igreja católica. Tal como nos era apresentado na iconografia das nossas igrejas de aldeia, super flagelado.
Eram os tempos em que não havia limites para a Vera Lagoa lhe descascar, porque seria comunista.
BM
Anónimo disse…
CE:

Escrivá escreveu (parece um pleonasmo!):
“Aquele que puder ser sábio, não lhe perdoamos que o não seja” -ponto 332 de "Caminho".

Eanes, estando presente na missa do centenário do nascimento de Marcelo Caetano, cometeu este pecado.

Deve, por isso, usar o cilício umas horas suplementares...
Anónimo disse…
Caro BM:

Eu próprio lhe chamei «prestigiado PR». Não esqueço que subscreveu a condenação do Manifesto dos Combatentes, movimento fascista que tinha como objectivo a propaganda da extrema-direita e a defesa das colónias.

Claro que não é impunemente que se aceita um doutoramento em Navarra e se é marido de Manuela Neto Portugal durante tanto tempo.

A presença de um militar de Abril, com as responsabilidades que ele assumiu no regime democrático, não pode prestar-se a branquear a figura de Marcelo Caetano sem risco de se conspurcar.

Foi o que fez.
Anónimo disse…
Um ateu tem, decerto, muitas dificuldades em compreender intelectualmente o comportamento e a postura dos que têm fé, seja ela qual for. Por isso não me surpreendem pelo conteúdo as expressões, rótulos e juizos de valor com que CE mimoseia a tomada de posição de Ramalho Eanes.
Já quanto à forma acho-a uma perpotência intelectual inqualificável e que vinda de quem vem, tem o mesmo sabor dos comentários anónimos ordinários, que com frequência e bem, na qualidade de administrador do blog, toma.
Anónimo disse…
(para completar a frase)
..a iniciativa de fazer.
Anónimo disse…
A permanente confusão (mistura) entre legitimas e livres convicções religiosas e o estatuto laico do Estado (constitucional), continua a vigorar.

Eanes, ao que tudo indica, vai à missa do Centenário do nascimento de Marcelo, na qualidade de ex-presidente da República Portuguesa, e aí comete o seu "pecadilho".
Poderia lá ter ido na qualidade de amigo pessoal, o que a suceder tornava a questão completamente diferente. Não parece ser esse o caso, a não ser que sofra de necrofilia litúrgica.
Há, ainda, outro aspecto. Marcelo foi (a História não se apaga) um dirigente político de Portugal. Certo. Mas importa não esquecer que Eanes integrou o grupo de militares (MFA) que o derrubou.
Era portanto um adversário (político, no mínimo). Em meu entender, a cortesia que, por vezes nos "obriga" a frequentar estas exéquias faz-se por amizade pessoal, companheirismo ou respeito à família. Ou, então foi lá para se certificar que o adversário estava morto (há alguns anos).

Finalmente, o mais importante.
Desde 1977, Marcelo mantem correspeondência íntima, assídua e aberta com uma professora da Faculdade de Letras.
Nesta troca de correspondência teve oportunidade de expôr questões pessoais, afectivas e, pasme-se, religiosas.
Afirma ser AGNÓSTICO.
Explica que não é "movido por qualquer ideia mesquinha: Zanga com os padres, política da Igreja, etc". Não. "Na base de qualquer atitude religiosa está a fé (virtude sobrenatural, etc.) A partir da fé em Deus pode ser-se cristão, budista, xintoísta, seja o que for. Se afalta a fé o resto é hipocrisia social, casca sem miolo. Ora, eu perdi a fé. Por um processo lento, que dura há bastantes anos, durante os quais lutei com a razão, procurei não abandonar práticas, evitei dar escândalo. O caso é que nada mudou."
A rematar acrescenta: às vezes perde-se a fé e conserva-ase o respeito pela Igreja em que ela foi vivida:em mim desapareceu uma e não ficou o outro, Mas são coisas distintas: não sou mais católico, porque que definem o catolicismo; não sou mais cristão, porque não acredito na divindade de Cristo; não sou mais religioso, porque não presto culto a Deus, a qum não nego, apenas considero a criação e a conservação do Mundo um grande e prodigioso mistério insusceptível de ser penetrado pela inteligência humana, capaz apenas de procurar hipoteses explicativas, das quais a existência de Deus é uma."
Quanto à Igeija, Marcelo é taxativo:
"... a Igreja é uma organização humana, política, oportunista, que capta fiéis como os candidatos captam votos. Respeitava-a se ela continuasse igual a si mesma e não temesse cair de pé para não negar nada do que um dia apresentou como eterno. Mas afinal é uma espécie de CDS."

Então, porquê a missa e, com maior incredulidade, pergunto: o que foi lá fazer o Gen. Ramalho Eanes?

As citações entre "aspas" são transcritas do brilhante artigo de Vasco Pulido Valente, publicado no Publico de 17.08.06., pág. 4 - 7

Penso que elas respondem às inquietações do leitor Fonseca e Costa.
Anónimo disse…
Fonseca e Costa tem todo o direito de me fustigar com uma prosa violenta, ressentida e injusta. É o seu ponto de vista.

Eu tenho todo o direito de condenar a atitude vergonhosa de um ex-PR em quem votei.

Não o condenei por ter ido à missa, como parece ter deduzido FC, condenei-o por ter ido à missa de Marcelo Caetano.

Post Scriptum - Não é hábito apagar comentários, como afirma.

Apago repetições do mesmo comentário e, RARAMENTE, alguns cujo conteúdo me parece susceptível de procedimento criminal.

Nestes casos peço ao anónimo para se identificar o que lhe permite manter o comentário.
Anónimo disse…
Felizmente que nunca votei neste sr. ramalho eanes.
Como se diz na minha aldeia:
"Que tenha vergonha na tromba".
Aliás, o tipinho nunca prestou.
Tenho pena é de quem o carregou às costas tanto tempo e aturava as boçalidades toscas da mulher... a manelita.
Anónimo disse…
O General "graduado" Ramalho Eanes, tem, sem dúvida, as suas limitações (o que, de resto, é comum ao ser humano)e foi, acho eu, um imprevisto e fulgurante acaso do destino que o levou até Belém mas, todavia, sempre me pareceu um homem sério e bem intencionado (o que não é pouco nestes tempos...)---e, como nunca é tarde para nos redimirmos e afirmarmos as nossas posições, quando livres de preconceitos e calculismos oportunistas, acho que, a presença do senhor General na missa da celebração do centenério de tão ilustre e também tão maltratado portugês, foi uma atitude que muito dignificou quem a tomou.

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