Audiência com Sócrates - Igreja mais satisfeita

A satisfação do patriarca Policarpo foi a campainha de alarme de que a reunião com o primeiro-ministro tinha corrido mal ao País. O que é bom para a Conferência Episcopal é mau para a democracia.

A derrota no referendo sobre a IVG está vingada. A penitência cumpre-se em euros.

A Concordata é uma espécie de Tratado de Tordesilhas que divide o poder entre a Igreja católica e o Governo, democrático ou não, que para a Igreja tanto faz. A de 1940 foi assinada com o ditador Salazar e este tinha o direito de veto sobre os bispos nomeados. Foi por isso que, com a excepção do honrado bispo do Porto, Portugal teve os báculos e as mitras entregues a um bando de fascistas.

Não pode haver liberdade religiosa sem igualdade de tratamento para todas as religiões nem respeito pela Constituição quando o Estado abdica da neutralidade a que está obrigado e se ajoelha perante quem exibe mais força ou poder de influência.

Recordo a magnífica conferência de Antero «Causas da Decadência dos Povos Peninsulares» e o passado histórico em que o poder da Igreja foi o travão do desenvolvimento e da liberdade.

Na cerimónia de despedida do núncio apostólico em Lisboa, em Outubro de 2002, o MNE de Durão Barroso, Martins da Cruz, que se demitiria na sequência de um vergonhoso processo de nepotismo para favorecer a entrada da filha em Medicina, afirmou: “Como católico considero um privilégio ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros no momento desta importante negociação”. Foi um acto de capitulação e desonra.

Agora foi Sócrates que se ajoelhou. Uma nódoa para o Estado laico.

Comentários

Anónimo disse…
Sem surpresa alguma. Porquê? Porque o ainda 1º Ministro Português, além de muito sensível ao diálogo (???), ainda não tinha ouvido a voz sensata e progressista; a voz que certamente lhe foi reclamar direitos para quem não os tem, mais igualdade neste País, lhe falou certamente contra a precaridade de emprego, contra a "desejada" flexisegurança, e também lhe terá dito que o Código de Trabalho data de Dez./2003 é uma aberração. Enfim, que os pobres estão mais pobres, e os ricos mais ricos.
Anónimo disse…
nÃO É O sÓCRATES O VOSSO HOMEM?bEM,PODE LIMPAR AS MÃOS À PAREDE...
Anónimo disse…
Se a igreja católica, deixa de colaborar no social, quero ver como é que o governo se segura...
Anónimo disse…
Preocupado, tenho-me interrogado em alguns textos se o regime democrático instaurado com o 25 de Abril não estará a seguir os passos da I República.
É verdade - ou pelo menos tem sido aceite como verdade - que a História se não repete. No entanto, eu já não estou tão certo disso.
São muitos os sinais de que os Portugueses não aprendem com a História...talvez porque só conheçam a versão ideologicamente manipulada que lhes tem sido «ensinada».
O Governo de José Sócrates, infelizmente, tem repetido muitos dos maus exemplos do Partido Democrático, e cada vez mais se parece com António Maria da Silva.
Também a I República começou por ser radicalmente anticlerical. Não tinha, aliás, alternativa se queria mesmo mudar uma sociedade prisioneira dos vícios do «Antigo Regime», onde nobreza e clero eram ainda, no início do século XX, duas faces do mesmo poder anacrónico que (des)governava o país. Contudo, rapidamente os republicanos enveredaram pela política da cedência e do compromisso com a Igreja (e os monárquicos).Até permitiram que se criasse um partido católico - O «Centro Católico». Salazar foi, aliás, em 1921, eleito deputado pelo «Centro Católico» e pelo círculo de Guimarães. O resultado foi o que se viu!
Se a nossa História nos ensina algumas lições, uma delas é, seguramente, a de que em matéria de valores e princípios não pode haver compromissos - ainda que chamem a isso de radicalismo.
Anónimo disse…
Completamente de acordo com a conclusão do comentário anterior.Nunca será demais
lembrá-la, pois muitos estão constantemente a esquecer-se dela. E as consequências desse "esquecimento" podem ser - como já foram - gravíssimas.

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