Beatificações políticas no Vaticano

Nunca a Igreja católica tinha beatificado tantos bem-aventurados de uma só vez. A visão vesga de Rätzinger e do episcopado espanhol, desejosa de desforra, elevou hoje aos altares 498 mártires da guerra civil espanhola, nem todos recomendáveis, incluindo um torturador, a acrescentar aos 479, distribuídos por onze cerimónias a partir de 1987, dos quais 11 já atingiram o escalão máximo – a canonização.

Mais de mil sacerdotes e oitenta bispos participaram na cerimónia orquestrada pelo inveterado franquista Antonio María Rouco Varela, Cardeal-arcebispo de Madrid, e presidida pelo cardeal português Saraiva Martins, para gáudio de 2500 familiares dos mártires, que assistem à missa com ódio à República e aversão à democracia.

Esta beatificação em série não é um mero acto de propaganda de uma Igreja prosélita que recuperou o entusiasmo das Cruzadas, é uma provocação ao Governo de Espanha que teve a coragem de legislar sobre o aborto, os casamentos homossexuais e o carácter facultativo da disciplina de Religião nas escolas do Estado.

Foi para esse braço de ferro que viajaram mitras e báculos a caminho de Roma. Apenas um (1) dos numerosos bispos de Espanha, se demarcou da posição oficial da hierarquia católica, defendendo o direito de reivindicar a memória das vítimas fuziladas e enterradas em valas comuns pelo franquismo.

Todos os outros clérigos com mitra e báculo circulam em contramão na estrada da democracia, velhos cúmplices do franquismo, despojos fascistas de uma Espanha que mudou.

Comentários

Anónimo disse…
O esbanjamento de tantas beatificações por parte do episcopado de Espanha e da cúria romana, o que inevitavelmente conduz á banalização do respectivo estatuto, traduz bem o desespero da Igreja Católica em relação aos avanços da modernidade, cujos processos não consegue controlar. A Espanha deixou de ser o baluarte do catolicismo, que foi progressivamente perdendo a sua influência sobre a sociedade e sobre as estruturas do poder.E perante esta derrota, a cúria romana não hesitou, mesmo correndo o risco do ridículo,de avançar para esta provocadora iniciativa, potencialmente fracturante, e em claro desafio aos nobres objectivos da "Lei da Memória Histórica" de Zapatero. A Igreja Católica está mexer numa ferida que ainda não está sarada e, a qualquer momento, os fantasmas deixados pela Guerra Civil podem vir a ser ressuscitados.
e-pá! disse…
A ICAR, na área política, a brincar com o fogo!

No aspecto de credibilidade institucional a aproximar-se com estas beatificações e canonizações de pacotilha das, no passado, frequentes excomunhões que, ameaçaram atingir - com o evoluir dos tempos e atitude retrógada da Igreja - a quase totalidade dos crentes cristãos. Veja-se o caso da "pílula" anticonceptiva.

A massificação destas cerimónias, no seu próprio códice religioso, raras ou de excepção, param além do ridiculo inerente, retiram-lhe qualquer significado.

Bento XVI, intrépido guerreiro da fé, tornaram estes processos armas de arremesso político.
E nesse terreno, o seminarista, padre, bispo e cardeal Ratzinger tem contas a ajustar.
A ICAR se fosse, para além, de uma instituição religiosa, uma organização humanitária, que olhasse o Homem com equidade e justiça, deveria estar a cantar hossanas à "Lei da Memória Histórica", já que esta lei pretende redimir e libertar a consciência dos homens e mulheres que viveram uma guerra, fraticida, onde, como é óbvio, a violência existiu, em ambos os lados.

A História não deve ser branqueada, nem prevertida, mas é necessário que seja compreendida e se torne um pacífico local de encontro dos povos. É necessário que os povos, na sua globalidade e diversidade, se revejam na História. E não só alguns "privilegiados"

E seria assim, se a Igreja não tivesse o intratável vício de julgar e ditar dogmaticamente a História para a posteridade.
Vício, não mais tolerável, nos tempos actuais.

Cansaram-se em rituais, ritos e pregações, mas não impressionaram o Mundo. Nem a Espanha que, para a semana, terá a sua "Lei da Memória Histórica".
Anónimo disse…
Quais são as "provas científicas" para uma beatificação?.
O que é uma beatificação, e a quem interessa?..
Mano 69 disse…
«Mnauel Norberto Baptista Forte disse...
Quais são as "provas científicas" para uma beatificação?.
O que é uma beatificação, e a quem interessa?..»

Se não lhe interessa para que é que está a fazer perguntas?
Fazer conversa?
Anónimo disse…
Caro mano 69, muito obrigado por me ter citado.
EU GOSTO DE CONVERSAR (ABERTAMENTE), E COMO TUDO É QUESTIONÁVEL, PORQUE NÃO TAMBÉM O CARÁCTER DAS BEATIFICAÇÕES !?.
Você já alguém lhe explicou detalhadamente o que preside a uma proposta de beatificação?. Se souber, "explique" à Comunidade, que certamente muito lhe ficará grata, por tal.
Mano 69 disse…
Caro Manuel Forte

Mas para que é que alguém (não eu) vai explicar a um ateu (e não estou a dizer com isto que seja…) uma proposta de beatificação?
Era perder tempo, pois como sabe um ateu é por sistema um “incrédulo” em relação a isso e/ou outra qualquer situação relacionada com a religião, seja ela qualquer for.

Tudo é questionável neste mundo? Discussões filosóficas não são do meu departamento…

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