Tarcísio Bertone - cardeal fundamentalista

O cardeal Tarcisio Bertone usou o 90.º aniversário das alegadas aparições de Fátima, uma arma da época contra a República, para apelar à «rebelião» dos cristãos.

O cardeal Tarcisio Bertone é o secretário de Estado do Vaticano, um Estado teocrático, governado, com poderes absolutos, pelo Papa Bento XVI. No Vaticano, Bertone está para o Papa como no Irão Mahmoud Ahmadinejad está para o ayatollah Ali Khamenei. O primeiro é o presidente virtual mas este último é o líder espiritual e o verdadeiro detentor do poder.

Nas teocracias todos obedecem ao líder espiritual e reina aí o poder discricionário, mas aos seus enviados exige-se que respeitem os países democráticos que os acolhem.

O cardeal Bertone não pode incitar os peregrinos da Cova da Iria a rebelarem-se contra o laicismo que lhe permite desprezar a democracia e exaltar os valores da sua Igreja.

A ICAR suspende um padre por se declarar homossexual, num acto de coragem que faltou a vários Papas, e os prelados que apoiaram Franco, Hitler, Salazar e Mussolini foram abençoados e alguns (Escrivá, por exemplo) canonizados.

Bertone é um ventríloquo de Sua Santidade e, por isso, não pode incitar à rebelião os cidadãos do país que gostaria de reconduzir a protectorado do Vaticano. O estímulo à rebelião, ao jeito islâmico, foi um acto injusto para com o PR e o presidente da AR que se prestaram (mal) a abrilhantar cerimónias religiosas com a sua presença e um desafio à Constituição do País que lhe permitiu o latim e o ódio pio.

Comentários

e-pá! disse…
O actual problema sobre a afirmação do Estado laico, que o cardeal Bertone aproveitou na preregrinação a Fátima, começou, melhor re-começou, em 25 de Abril de 1974.
O Estado laico foi uma das bandeiras da I República. Todos sabemos que nem tudo correu bem.
Em Abril - e apesar da "colagem" da ICAR ao Estado Novo - ninguém queria levantar uma "questão religiosa". O PS e o PCP, de certo modo, "branquearam" essa situação compremetedora para a Igreja, em nome da "pacificação" da sociedade portuguesa.
Foram ainda mais magnânimos. Embora na Constituição de 1976, portanto, em questões de princípio, tenham afirmado o Estado como laico, deixaram continuar a vigorar a Concordata de 1940 que, em certa medida, o contradizia.
Quem já viveu o suficiente lembrar-se-á que o "Estado Novo" era publicamente apresentado como uma "dádiva da divina Providência".

De maneira que fomos vivendo a formalidade da laicidade do Estado e a prática de uma tolerância acerca de intromissões da Igreja na vida política.
A própria Lei da Liberdade Religiosa (2000?) viria a coexistir com a Concordata de 1940.

Só mais tarde se procede à revisão da Concordata (no Gov. Barroso) enquando sectores mais radiciais da sociedade (não só políticos)sugeriam a pura abolição da Concordata.
O Cardeal Tarcísio, veio a Fátima dar razão aos tais "radicais". O "fundamentalismo" funciona assim.

Depois de tantos anos a tentar evitar uma "quezília religiosa" ela poderá estar à nossa porta.
Não foram os ateus, nem os agnósticos, que a levantaram e muito menos os republicanos (velhos ou novos).
Ela poderá ter chegado pelas mãos de Bertone, enviado de Bento XVI.
Anónimo disse…
É preciso ser b.... para comparar o Vaticano como Irão.
É verdade que em tempos idos os estados papais eram um estado teocrático , contudo com a unificação Italiana e o acordo atingido com Mussolini o Vaticano está restrito à Basilica de S. Pedro e edificios envolventes, ao Castelo Gandolfo e algumas igrejas em Roma.
Isto não é bem um Estado, não existem Vaticaneses (naturais do Vaticano) e só vive naquela área quem o deseja e quer trabalhar para a igreja católica.
Já o Irão é diferentem não é?
Esta forma de soberania da igreja católica sobre uma parte infima de território é uma forma de manter uma religião independente dos estados (já que é laico é assim que deve ser, não é, nem a igreja nem o estado submeterem-se um ao outro).
Anónimo disse…
"Rebelião" dos Católicos? Porque causa?.
Por a Igreja Católica estar isenta de impostos, e construir Monumentos que "ficam" pelo dobro?.
Por continuar a consentir face às suas cumplicidades com os diversos Governos, as assimetrias da sociedade?.
Anónimo disse…
Anónimo Seg Out 15, 01:50:00 PM:

Pode chamar-me «burro» com todas as letras. Não apago os insultos que me são dirigidos nem quando o indelicado leitor julga ganhar, assim, mais razão.

O catolicismo, contrariamente às outras religiões, tem um Estado com todas as prerrogativas. Só não é um Estado de direito.

O Vaticano, por ser um Estado, impediu a autópsia de João Paulo I que permitiria decidir se foi crime ou morte natural o que lhe aconteceu 33 dias depois de ser Papa e uma semana depois de ter declarado que mandaria fazer uma investigação ao IOR (Banco do Vaticano).

Por ser um Estado, o Vaticano negou a extradição do arcebispo Marcinkus para ser julgado em Roma pela falência fraudulenta do Banco Ambrosiano.

Por isso, e só por isso, o Papa católicoé recebido com honras de chefe de Estado nas deslocações a outros países.
Anónimo disse…
Pode ser falha minha, mas não consigo compreender a razão de existir uma Concordata com a Santa Sé nos dias de hoje.

A Igreja Católica continua sempre a tentar interferir e regular a vida das pessoas, e só quem não desenvolve o intelecto/só os países que não apostam numa boa educação, os seus cidadãos se deixam levar pelos discursos do clero. Claramente, Portugal ainda sofre com isto.

O caso de João Paulo I deveria ter sido internacionalmente tratado, é uma vergonha o que aconteceu em pleno século XX.

Diogo.
Anónimo disse…
Diogo:

A Concordata é um anacronismo que a gula da Igreja católica e a falta de coluna vertebral dos deputados do PS,PSD e CDS consentiram.

Foi uma capitulação efectuada no Governo de Durão Barroso - uma espécie de Zita Seabra do sexo masculino.

A minha acusação ao PS deve-se ao seu silêncio cúmplice, por motivos eleitorais.
Anónimo disse…
O seu comentário sobre o EStado do vaticano só me vem dar razão.

Se o Vaticano não fosee um estado então a religião poderia ser permanentemente atacada pelo Estado onde estivesse sediada e teria a tentação de controlar esse Estado.
De facto os outros exemplos onde a China tenta nomear para os cargos da religião Budista quem mais lhe interessa, o controle que o Islão tem sobre os Estados muçulmanos, as relações perigosas entre o governo da Rússia e a igreja russa ortodoxa são exemplos de que é melhor a situação de indepêndencia do que uma situação de domínio/convivência.

Quanto ao arcebispo norte-americano Paul Marcinkus de facto chegou a ser incriminado, de facto teve o apoio do Papa JP II, contudo morreu em 2006 nos EUA e saiu do Vaticano em 1990.
A lei italiana permite o julgamento da pessoa sem esta estar presente e ser presa na primeira oportunidade, portanto o Vaticano pode ter apoiado o arcebispo mas não impediu o seu julgamento.
O facto é que para além do Vaticano o escândalo do Banco envolve esferas mais altas e poderosas, nomeadamente os próprios govenrantes italianos, os EUA e , por ventura muitos governantes europeus. A causa principal da bancarrota do banco foi o desvio do dinheiro para apoiar o combate ao comunismo, nomeadamente o Solidariedade na Polónia mas tb os Contras e outros grupos guerrilheiros anti-comunistas.
Não pode culpar o Vaticano apenas por isto, o plot é mais global e envolve estados ocidentais, a própria maçonaria americana.
Assim sendo, a morte de JP I, o abafar do escândalo, a inocência de quem foi levado a julgamento mostram que todo o caso é mais global do que pensa.

Finalmente, na verdade C.E. não é pela liberdade religiosa mas sim plea propagação da sua: o ateísmo, na verdade gostaria de erradicar todas as religões à face da terra, não sendi diferente dos padres e imans que andam por esse mundo à procura de conversões.
Anónimo disse…
Anónimo Ter Out 16, 12:42:00 PM:

Não discuto o seu ponto de vista, apenas lhe garanto que defendo a liberdade religiosa.

Só não aceito a interferência religiosa nas instituições democráticas.

Aliás, sou contra os Estados ateus, tão sinistros quanto os Estados confessionais.

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