Há razões para optimismo

Quotidianamente os noticiários anunciam um novo máximo do barril de petróleo com o infantil entusiasmo pelo limite que foi ultrapassado, a barreira que caiu e a nova meta que se avizinha. Vivemos num mundo esquizofrénico em que a competição se sobrepõe à reflexão sobre desgraças que se avizinham, a fome que espreita e a pobreza que uma civilização encurralada se prepara para disseminar.

A possibilidade de substituir o petróleo por combustíveis à base de cereais é a euforia dos que se maravilham com a alternativa que, por cada depósito de combustível, deixa um cidadão sem alimentos durante 1 ano.

É a mesma lógica perversa que põe milhões de pessoas a chorar o desaparecimento de uma menina loura, filha de pais ricos (e é um drama, de facto) enquanto milhares de crianças negras fazem a guerra, sofrem doenças e morrem de fome perante a indiferença e o silêncio internacionais. São silenciosos e silenciados os dramas dos conflitos étnicos que se perpetuam, as rivalidades tribais, os genocídios e os etnocídios que não param.

Talvez, por isso, tenha passado despercebida a notícia do homem que deu à mulher um dos seus rins. Ou da mãe que ofereceu um pedaço do seu fígado ao filho doente.

Os gestos de amor passam despercebidos no silêncio de um quarto de hospital em que o dador é advertido de que a oferenda lhe pode ser fatal, que na generosidade do sacrifício se podem esvair duas vidas, que é incerto o futuro de tamanha bondade e, mesmo assim, assina o consentimento sem vacilar, aceita o sacrifício com determinação e adormece sob o efeito da anestesia, no anonimato, com a consciência tranquila.

Há, para lá das bolsas de valores, dos máximos e mínimos das matérias-primas, dos mercados de futuros e dos rumores sobre os fundos, manifestações de generosidade que germinam no coração de um homem ou no amor visceral de uma mulher.

Há sinais de que o mundo não está perdido e de que o futuro pode ser moldado – e há-de sê-lo –, por sentimentos alheios ao comércio: o amor e a solidariedade.

Comentários

Luís Queirós disse…
O que se está a passar no mundo, refiro-me à crise financeira americana, ao aumento em espiral das matérias primas , etc, vai levar-nos rapidamente a um ponto de não retorno, aquilo que eu designo de FDMTCHOC (fim do mundo tal como hoje o conhecemos)
A sociedade mercantil -leia-se capitalista, necessita de crescer de forma continua para se manter.
Os problemas do mundo actual resultam da constatação de que crescimento e sustentabilidade são dois conceitos incompatíveis: num sistema limitado o crescimento tende para zero à medida que nos aproximamos das fronteiras desse sistema.
Há que perceber, quanto mais depressa melhor que há que fazer uma inversão muita rápida da forma de viver. Quanto mais tarde, maior será o risco.
Projectos megalómanos como o TGV ou o NAL deveria ser substituídos de imediato por grandes projectos nacionais que visem:
a) aumentar a produção de bens essenciais
b) desenvolver as formas alternativas de produção de energia
c) melhorar e desenvolver os transportes públicos sobretudo as malhas urbanas
Entretanto, valha-nos a nobreza de certos gestos...

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