TV – Perversão da livre concorrência

Por

A. Horta Pinto

Como democrata e indefectível defensor da liberdade de expressão de opinião (isto é, de opiniões) só posso congratular-me com o facto da haver em Portugal vários canais de TV.
Acontece porém que o "mercado"- esse ditador da economia capitalista - faz com que a livre concorrência entre os 3 canais tenha efeitos perversos. Isto é: tem-se visto na prática que os 3 canais, em vez de concorrerem uns com os outros pela diferença, concorrem pela semelhança.

Se um canal dá o principal jornal às 20 horas, todos passam a dar o seu principal jornal às 20 horas; se um canal se lembra de dar o sumário desse jornal às 20 menos dois minutos e meter no meio um anúncio, logo os outros dois fazem a mesma coisa; se outro canal se lembra de passar notícias escritas em rodapé enquanto dá outras notícias, logo os outros dois o imitam.

Chega a acontecer não valer a pena fazer "zapping" quando o canal cujo noticiário estamos a ver interrompe o jornal para dar anúncios: os outros canais tambem estão a dar anúncios. Chega a parecer que se combinam! Por outro lado, todos os canais à "hora nobre" nos impingem porcarias intragáveis; os programas com algum interesse são depois da meia-noite, quando a maior parte das pessoas vão dormir.


Além disso, as "opiniões" expressas nos vários canais são praticamente as mesmas.Infelizmente, tenho de reconhecer que a televisão de hoje, com 3 canais, é pior do que a que havia (depois do 25 de Abril, claro) com apenas um canal, em que à hora nobre se podia ver a telenovela "Gabriela" ou o interessantíssimo concurso "A visita da Cornélia".


Em suma: alguma coisa está mal no reino da Dinamarca da nossa produção televisiva: cada canal procura ser pior que os outros!

Qui Mai 22, 02:58:00 PM

Comentários

ana disse…
E isto para não falar dos constantes ataques à língua portuguesa.Neste momento a Marta Atalaya, na SIC N, repete pela 4ª vez o "seqüestro".Parece que não há responsáveis, tudo funciona ao acaso, tão baixo desceu a qualidade dos programas.
e-pá! disse…
Instalou-se entre as 4 TV's concorrentes uma insuportável "guerra de Shares".
É o mercado livre audiovisual.
Aquele conceito de TV como serviço público empenhado na informação livre, isenta e esclaaregida e uma acção cultural pedagógica, responsável, educativa, etc., foi à vida com a globalização e o consequente entranhamento da sociedade com ideologia neo-liberal.

Segundo os dados do serviço MediaMonitor, os quatro canais nacionais de sinal aberto emitiram, durante o primeiro trimestre deste ano, 49 horas de notícias relacionadas com cultura e espectáculo nos seus serviços noticiosos regulares;
No mês de Abril emitiram 78 horas de autopromoções dos seus programas;
As Cerimónias de Fatima, foi transmitida, em directo, pela RTP1 e a TVI. Na RTP1, esta transmissão registou 4.7% de audiência média e 33 de share. Na TVI a audiência média foi de 4.3% e 35.2% de share. Na SIC, a manhã foi preenchida pelo programa Fátima que registou 2.8% de audiência média e 19% de share;
e, finalmente, perante horas e horas de transmissão de futebol e de programas sobre futebol, alegre-se:
...a RTP1 transmitiu a vitória de Vanessa Fernandes!
A RTP1 transmitiu no dia 10 de Maio, sábado, a prova feminina do Campeonato Europeu de Triatlo que foi ganha por Vanessa Fernandes, que assim se sagrou Pentacampeã Europeia. A prova foi transmitida entre as 10:06 e as 12:59 e alcançou 3.8% de audiência média e 27.4% de share. Foi vista por um total de 2.031.800 espectadores que viram em média mais de 27 minutos da transmissão, o que equivaleu a 17.6% da sua duração.

E que o "indice de expectactiva político" em Portugal é caracterizado por um "Pessimismo Moderado" ( valor do índice de entre 25 e 50) na maioria das regiões, à excepção do Sul, em que, pela primeira vez desde Outubro de 2005, atingiu o "Pessimismo Acentuado".

Caro Horta Pinto:
Não existe só preversão na livre concorrência. Há distorção da informação, concebida como um serviço público. Há o mercado, os jornalistas, a édeontologia, os proprietários dos media, os opinion makers, etc.

E a expectactiva real é continuarmos a caminhar neste carreiro...
FH disse…
Não há livre concorrência no mercado dos operadores televisivos.

Existe um oligopólio da RTP, SIC e TVI no sinal aberto, que abre as portas à cartelização destes operadores.
Mantendo programas similares nos mesmos horários, ficam em principio cada um com a sua fatia de mercado sem grandes oscilações de maior. Não percebo bem as razões que levam a que se restrinja o aparecimento de novos operadores televisivos em sinal aberto!!
Vítor Ramalho disse…
Depois é irritante a falta de apoio à música e cultura nacional.
Entre morangos com açúcar, caridadezinha e dizer que quem não usa as caças x não está na moda, pouco ou nada se aproveita. A televisão como muitas outras coisas está americanizada pela negativa.
Vou vendo as noticias, muitas vezes tendenciosas ou com falta de alguns elementos. As telenovelas são de muita baixa qualidade.

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