O Bloco Central

Marcelo fala em arranjos para novo Bloco Central. Ninguém leva completamente a sério a intriga, mas ninguém, com um mínimo de senso, pode ignorar o que diz e, sobretudo, o que esconde um dos mais brilhantes estrategos e panegiristas da direita portuguesa.

Vamos por partes. Em caso de catástrofe, bloqueio insuperável do regime, iminência de bancarrota ou ditadura, ou de ambas, não seria legítimo recusar, em absoluto, o Bloco Central. Salvo em situações extremas, a solução seria implacavelmente pior do que o problema. Não estamos perante tal cenário.

Há muito que a esquerda da esquerda, PCP e BE, acusa o PS de ser de direita. Aliás, fá-lo sempre. É o seu papel na luta pelo voto no mercado eleitoral, a tentativa de dividir o PS e atrair o eleitorado menos receptivo ao equilíbrio das contas públicas e mais aberto aos apelos da luta contra o capital. O PS é o inimigo principal por estar mais próximo e, apenas, por ser aí que o PCP e o BE podem captar votos.

Já a direita usa tradicionalmente a chantagem de que o PS é igual ao PCP ou que está morto por se aliar a ele, como se isso fosse, em democracia, um crime ou uma desgraça.

O que leva, pois, a direita a levantar o fantasma do bloco central? O que levou a direita mais pragmática a apoiar Manuela Ferreira Leite em detrimento de Passos Coelho ou de Santana Lopes? – Apenas o medo do ridículo e do descrédito. Um deu tamanhas provas de incompetência governativa e o outro de ignorância que a aposta teria de ser na mais credível e menos desejada das candidaturas.

A conjectura do Bloco Central é gratuita e pouco credível mas tem um enorme mérito para os que sonham sujeitar Portugal, com uma economia frágil e enormes debilidades sociais, a uma experiência neoliberal dura. É por aí que se abre espaço para o sonhado partido liberal.

Isto explica que Marcelo, António Borges e Pacheco Pereira, entre outros, apoiem, por ora, Manuela Ferreira Leite. Preparam o terreno, perante a crise social que se agrava e as deslocações de voto previsíveis num eleitorado zangado, para a experiência com que sonham há muito.

Comentários

e-pá! disse…
O NÚCLEO DAS ILUSÕES E AS DESVENTURAS DO BLOCO

Ninguém é obrigado a cair nos braços especulativos de Marcelo Rebelo de Sousa. Nem mesmo aqueles que domingo à noite não têm programas alternativos.

O Bloco Central é a derradeira tentativa da Direita para não estar demasiado tempo fora do Poder. Esse interregno é-lhe fatal. Sucedem-se as atitudes autofágicas de personalidades, que ambicionam outros voos. Entram em cena, os espécimes que no PSD, são designados por “barões”. Num partido sem quadro ideológico claro e definido as vitimas são os dirigentes. O recente caso de LF Menezes é um exemplo paradigmático.
Não tenhamos dúvidas, apesar de todos os malabarismos de Marcelo, o PSD é um “albergue espanhol”.
Sendo assim, o “Bloco Central” é, para o PSD, uma mera questão de sobrevivência. Por isso, um dos objectivos fulcrais da actual equipa dirigente é retirar a maioria absoluta ao PS. Foi exactamente para isso que foram desenterrar Manuela Ferreira Leite, deixando de fora novas gerações de dirigentes partidários. Que diga-se, em abono da verdade, não mostraram grande astúcia ou argúcia política.
Se Manuela Ferreira Leite conseguir travar a hemorragia que se previa com o consulado de Menezes, poderá aspirar a inibir o PS de “reconquistar” a maioria absoluta.
Existe, ainda outro factor, que ultrapassa o PSD. A Direita portuguesa que, em termos genéricos, será das mais desorganizadas da Europa. A situação de Paulo Portas e do “seu” CDS é, pura e simplesmente, caricata. Não tem paralelo na Europa. Todos nós estamos cansados de ouvir falar na “refundação” da Direita. “Refundação” é o termo chave. Há vontade, mas não se vislumbra qualquer líder credível.

Mas o PSD não deve pagar todas as despesas da “festa”. A governação PS tem culpas no cartório. Terá gerado uma multidão de “descontentamentos” e “desilusões” em todo o País. Mesmo dentro dos seus militantes e simpatizantes. A parte final do ciclo governativo não tem colaborado na construção de uma imagem política e social do PS, como aparentemente seria esperado. Chegamos ao fim e cumprimos o estipulado para o deficit orçamental. Não arrancamos no crescimento económico e estagnamos no desenvolvimento. Todos sabemos que estamos num Mundo Global e a crise é generalizada. Mas estamos a falar de estratégia de ciclos governativos. A um primeiro período de drástica contenção devia seguir-se a distensão. As condições actuais, nomeadamente, a crise energética, alimentar e a crise financeira dos subprime assente sob riscos intoleráveis, tornaram a habitual estratégia governativa num fantasma.
Até a estrondosa vitória na política externa que constituiu a presidência portuguesa da EU, nomeadamente, o Tratado de Lisboa, “jóia da coroa” de Sócrates, passa por maus dias.
Tudo corre mal. Portanto, o PS, vítima de um percurso governativo atípico e imprevisto, é também um exímio contribuidor para a perda da maioria absoluta.
Mais, o PS descaracterizou-se. Perdeu carga ideológica que, Manuel Alegre tenta, desesperadamente, recuperar, e enveredou por uma linha “pragmática”, muito próxima da fracassada 3ª. via de Blair que, hoje, goza de merecido repouso e as benesses de consultor do banco de investimentos norte-americano JP Morgan.
Mas o PS não se ficou pela descaracterização ideológica. Descurou aspectos sociais, tradicionalmente baluartes da política socialista, fustigando impiedosamente uma classe média frágil, retirando-lhe regalias, cortando cerce e bruscamente em direitos adquiridos (umas com razão, outras muito ad hoc), conduzindo-a a uma lenta agonia a caminho de uma proletarização compulsiva. Ora, todos sabemos, que a dita “classe média” é que faz os partidos ganharem ou perderem as eleições. Na actual situação, o PS não pode contar com esse apoio. Finalmente, em relação à função pública a animosidade em relação à função pública, nomeadamente em relação à Educação, é notória.

Mas a história, como desejaria a Direita, não acaba aqui.
Apesar de tudo existem outras soluções, outras alternativas de governo, fora do quadro negro que uma indesejável hipótese do ressuscitar do Bloco Central, deixa antever.
Há, a Esquerda - à esquerda do PS - que beneficiou deste contexto político.
Mas isso é outro assunto. Nada tem a ver com o Bloco Central, nem com as diatribes de Marcelo. São assuntos políticos fulcrais para o futuro de Portugal.
São obviamente considerações e debates a serem feitos, em tempo oportuno, sem os tradicionais complexos que contaminam a Esquerda, de maneira que José Lello não sonhe… nem Vitalino Canas venha dizer que são inoportunos, deslocados e, provavelmente, ilegais…

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