Tribunal da Boa-Hora

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O Tribunal da Boa Hora, deve ser desafectado da Magistratura Judicial e entregue ao IPPAR, à URAP, ou qualquer outra Organização Cívica que tenha capacidade de fazer alguma coisa por aquele imóvel, em cujo ambiente se respira a ignomínia e a fantochada judicial montada pelo Estado Novo.

Será sempre uma casa plena de significado cujo historial começa no estertor da Monarquia e atinge o auge no complexo processo da luta anti-fascista, a protagonizar julgamentos fantasmas, representados por fantoches.

Muitos homens, por crimes de delito de opinião, ou por se rebelarem contra a ditadura, partiram dali para a prisão, outros para o degredo, outros desapareceram à sombra de medidas de segurança...

Os juízes que aí exerceram funções eram lacaios do regime salazarista, serventuários da polícia política, coniventes com os crimes que aí começaram a ser arquitectados e perpetrados no exterior - nas masmorras, nos fortes-prisão, etc.
Algumas vezes processos julgados na Boa Hora terminaram na eliminação física de resistentes(caso do Tarrafal).

O Conselho Superior da Magistratura deveria ter tratado com rigor e implacável justiça esta vergonha judiciária.
Não sei o que fez. Gostaria de saber se, ao menos, foi levantado um único processo disciplinar... àqueles magistrados (podíamos chamar-lhes carrascos) que conspurcaram irremediavelmente a Justiça.

Mas há uma coisa que o Conselho Superior da Magistratura não fez:
- matar a minha memória e impedir que relate estas ignomínias, estes crimes, os horrores do fascismo, aos meus filhos, aos meus netos...

A Tribunal da Boa Hora fez parte da identidade portuguesa durante largos anos. Continua a fazer parte dessa identidade.
Que é demasiado importante para ser esquecida ou sumariamente desmantelada.

Só faltava ver "nascer", sob os escombros em que rapidamente este Tribunal se vai transformar, um "Hotel de Charme"... para gáudio da nova aristocracia do dinheiro.

Como não há decência, nem respeito, ao património político, cultural e judicial nacional, ao menos que haja vergonha!
Salguem o terreiro onde se ergue o extinto Tribunal.
Era o que o Homem do Iluminismo, se por cá andasse, faria...

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