Mário Soares - 85.º aniversário (II)


Sem pretender beliscar a imagem de Mário Soares, sem dúvida, um vulto da política nacional e um referencial na nossa imagem internacional, a observação de Rui Cascão sobre o post evocativo do seu 85º. aniversário e sua última candidatura a Belém, despertaram-me a atenção para novos combates que aí se avizinham.

Agora que as próximas eleições presidenciais entraram na ordem do dia e a realização das primeiras movimentações sobre o próximo candidato da Esquerda à PR, envolvendo – novamente – Manuel Alegre, mostram ao País mais uma incapacidade de inovar e progredir, do que a destreza em desbravar de opções consensuais e ganhadoras, suscitam-me algumas reflexões.

As duas últimas grandes batalhas políticas que Mário Soares se disponibilizou para travar, mostraram a sua vontade de servir o País.
Foram, no entanto, ensombradas pela sua anuência em servir estratégias de momento, circunstanciais, do PS, e - talvez por isso - redundaram num fracasso.
Refiro-me à sua candidatura a deputado europeu visando a presidência do PE e, a última, a sua malograda tentativa de reeleição à PR portuguesa.

Mário Soares, nos últimos anos, tem evidenciado - em relação ao seu pensamento político - uma sustentada viragem à esquerda. E, esse seu posicionamento é tanto mais evidente quando mais liberto está de condicionalismo partidários circunstanciais. Isto é, quando intervêm acima da sua condição de socialista e se posiciona como um "senador" da República, movimentando-se num espaço de ampla liberdade de pensamento.

De qualquer maneira, é, aos 85 anos, um cidadão lúcido e um interveniente político, cujo pensamento continua a influenciar substancialmente a vertente política nacional.
Está de parabéns pela sua provecta idade e, concomitantemente, pelo constante, vigoroso e valioso contributo que presta com as suas reflexões sobre País e pelas suas posições nos diferentes areópagos internacionais.
Será a mais marcante figura política do período após-25 de Abril que não esmoreceu com o passar do tempo.

Mas o PS tem, para com M. Soares, algumas dívidas: a primeira, ouvi-lo com melhor atenção; outra será reconhecer-lhe a liberdade de actuar nos diferentes espaços políticos, sem qualquer tipo de constrangimentos ou balizamentos partidários.
A sua longa militância socialista merece que seja dada a distinção de, sem o considerar um retrógrado anarquista ou um mestre do liberalismo, o deixar actuar como um “livre-pensador” da Esquerda democrática e socialista.

Comentários

Graza disse…
Desculpe e-pá! deixar-lhe ficar aqui um comentário já editado em baixo, mas o assunto é pertinente.

"Contudo, e apesar de tudo, teima em não ter o final político que merecia. Não precisava continuar esta senda contra Alegre. Uma pena. Ver no Jornal I. Só quem andou com Manuel Alegre naquela campanha percebeu quanto estavam errados os que ainda acreditaram em Soares. É bem verdade André, a àgua não passa duas vezes... E aquela teimosia, Rui, foi um ressaibo continuado por alguns que ainda hoje não perceberam o que foi a qualidade do acto cívico que Manuel Alegre permitiu que tivessemos vivido. Nestes termos, não tem havido tantos momentos iguais depois do 25 de Abril. Manuel Alegre ensinou a muita gente o termo CIDADANIA, ele já existia mas nunca ninguém teve a coragem de agarrar nele, porque para alguns é demasiado perigoso, tem um poder centrifugador e à quem tenha medo de não ter força para se agarrar."

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