O virtuosismo falacioso de um ex-governante…

Eduardo Catroga, professor de Finanças do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) – da Universidade Técnica de Lisboa, ex-ministro das Finanças do Governo de Cavaco Silva [XII Governo Constitucional] de 1993 a 1995 [o inefável “período do betão e do alcatrão”] é actualmente presidente do Conselho de Administração da SAPEC, acumulando essas funções com as de administrador não executivo da Nutrinveste e do Banco Finantia e, ainda, membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, para falarmos das mais conhecidas...

Um homem muito ocupado ou, melhor, o exemplo vivo de como é proveitoso ser um ex-membro do Governo.

Apesar destas múltiplas ocupações, o prof. Eduardo Catroga, conseguiu arranjar tempo para participar nas “novas" conferências do Casino, como convidado da jornalista Fátima Campos Ferreira. É um homem versátil. Já tinha desbaratado algum desse precioso tempo integrando a “brigada do reumático” formada por ex-ministros das Finanças, que efectuou uma recente [e inoportuna, diga-se em abono da verdade] peregrinação a outro ex-Ministro das Finanças agora inquilino de Belém. Uma reunião em família...

Na “conferência do Casino” [ Figueira da Foz, Maio 2010] não se preocupou, não se ocupou, na abordagem das “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”, como fez Antero de Quental [Casino Lisbonense, Lisboa, em Maio de 1871], durante a 1.ª sessão das Conferências Democráticas…, i. e., há quase 140 anos…!
E, evitou essa abordagem, ou, porque lhe terá faltado a verve, ou, então, por ter a noção de que - entre as causas da decadência - lhe surgiria, a talhe de foice, a prestimosa contribuição da sua douta personagem… na remotas origens desta [presente] crise.

Gastou o seu valioso tempo [a julgar pelas múltiplas ocupações que tem…] prescrevendo ad libitum receitas avulsas [mezinhas…] para todos os males da nossa actual crise…

Entre elas figura uma autêntica pérola de estilo […em ”economês neo-liberal”]
Disse:
Portugal perdeu uma “oportunidade histórica” de reduzir salários dos sectores públicos e privados. Defendeu um corte médio de 10% [nos salários] e o pagamento do 13 e 14º. meses em obrigações do Tesouro a que chamou eufemísticamente uma “poupança obrigatória”…
E, rematou, triunfante: …”Mas não aumentava os impostos”

É difícil e enigmático - para o vulgar cidadão - entender a diferença entre sacar na fonte dos rendimentos [salários] ou, à posteriori, em impostos directos e indirectos, taxas, alcavalas…?
Ou, será que para a maioria dos portugueses e das portuguesas que vive do seu [cada vez mais precário] trabalho, ou da sua pensão, o que importa são os proventos líquidos que arrecada ao fim do mês?
De facto, a esmagadora maioria de nós não acumula a profissão base com actividades na SAPEC, Nutrinveste, Banco Finantia, EDP…e, portanto, não podemos dedicar-nos a estas sofistas manobras de engenharia financeira. Também a esmagadora maioria dos portugueses não se aposentou com pensão mensal de 9693,54 euros (Abril de 2007)…, para poder contribuir com os tais 10% , no peditório [... ou no saque] que o ex-Ministro preconiza.

Isto é, com o recuo histórico e político que informa o nosso património de cidadania, com o acesso à informação que hoje desfrutamos, deixamos de acreditar em falaciosas propostas ou soluções milagrosas, vindas de iluminados ex-governantes.
A vida é assim. O magister dixit, na Europa, ou caiu em desuso, ou, tornou-se numa confrangedora ironia …! Nada que se possa tomar a sério.

Comentários

ana disse…
Agora têm soluções para tudo, no seu tempo criaram ou alimentaram os problemas. Quem não os conhecer que os compre.

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