A ultrajante - e inquietante - suspensão do Juiz Baltasar Garzón…

Hoje, o Conselho Geral do Poder Judicial (CGPJ) suspendeu o juiz Baltasar Garzón das suas funções, na Audiencia Nacional.

O Juiz Garzón declarou ontem, na Casa das Américas, durante um debate sobre os judeus vitimas da ditadura militar argentina:
"No se afrontan las situaciones complejas con optimismo, sino con tranquilidad, con la tranquilidad que da saber que soy inocente de lo que se me acusa. Como hombre respetuoso con la ley, sólo me queda asumir la decisión de mañana ejerciendo mi defensa para que quede absolutamente clara cuál es la situación".
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Apesar de estar iminente a sua ultrajante suspensão – como a intervenção da véspera confirma - o juiz ainda trabalhou, durante toda a manhã, na Audiência Nacional.
Ao abandonar as instalações, depois de informado da sua suspensão, mostrava-se profundamente comovido e foi alvo de manifestações de solidariedade por parte de outros juízes e pessoal do sector judiciário.

O carácter urgência conferido à realização de um plenário do Conselho Geral do Poder Judicial (CGPJ), com um único ponto da ordem do dia (a suspensão de Baltasar Garzón), não é inocente.
Na realidade, Garzón tinha sido convidado para assumir funções como assessor do Tribunal Penal Internacional, em Haia. Este convite mereceu o seguinte despacho do Ministério das Relações Exteriores espanhol: "…hay interés del Gobierno en reforzar los medios humanos y materiales de la Corte Penal Internacional".
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A sua “apressada” suspensão pelo Conselho Geral do Poder Judicial (CGPJ) tenta fechar esta nova porta que, recentemente, lhe tinha sido aberta, em reconhecimento do seu longo curriculum na apreciação de crimes contra a Humanidade.

A senda persecutória que foi movida ao juiz que ousou investigar os crimes do regime franquista é, hoje, claramente visível. Tem origem nas forças políticas mais retrógadas de Espanha (diria mesmo neo-fascistas) e, como braço armado, o Supremo Tribunal de Justiça.
Alguém sairá desprestigiado deste iníquo ajuste de contas. Esse alguém - atrevo-me a vaticinar – será, com certeza, o Poder Judicial.
A História - nomeadamente no que respeita a crimes contra a Humanidade - é implacável nos seus veredictos.

Comentários

e-pá! disse…
Apostila

Entre as múltiplas reacções que a suspensão cautelar do juiz Baltasar Garzón suscitou, destaco a de José Saramago, com o titulo "No se entiende", publicada no seu site:
http://www.josesaramago.org/
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Anónimo disse…
essa democracia espanhola é tão verdadeira como virgindade de Maria...

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