Crença, jejum e abstinência

Quem está familiarizado com as crenças religiosas sabe que o deus privativo de cada fé rejubila com os jejuns e, sobretudo, com a castidade dos devotos, para além da cólera que o assalta quando vê nus os ombros ou os joelhos de uma mulher.

É de crer que os homens que criaram Deus se esqueceram de lhe arranjar companhia e o castraram para lhe evitar aquelas doces tentações que fazem as delícias humanas. Eram membros de tribos patriarcais onde a dureza da vida lhes deixava parca disposição para o amor.

O Ramadão, que uma das crenças mais divulgadas considera o «mês da purificação e da oração», impede a ingestão de quaisquer alimentos, sólidos ou líquidos, bem como o gozo sexual, do nascer ao pôr-do-sol. E os crentes, por fé ou medo, por vontade própria ou pavor de represálias, por tradição ou terror de denúncia aos clérigos, lá se aguentam na abstinência que – ao contrário do que lhes prometem –, não assegura qualquer vaga no Paraíso, nem o deboche e rios de mel para os bons muçulmanos do sexo masculino.

O Deus que a geografia, a ancestralidade e os constrangimentos sociais impõem a estes infelizes, é um idiota que odeia o álcool e a carne de porco como lhe podia ter dado para abominar os figos, as tâmaras ou a maçã raineta.

Não se julgue, porém, que a tolice é privativa de uma religião e não apanágio de todas. O Vaticano que inveja a demência colectiva que obriga os crentes a viajar de joelhos, a fazer jejuns e a passar o tempo a matar infiéis ou a rezar, vê com nostalgia o abandono do jejum, o desprezo da castidade e o desinteresse sobre o vestuário feminino que torna as mulheres apetecidas e eleva os níveis hormonais independentemente do género.

Por que razão temos de respeitar crenças que tornam infelizes e fazem sofrer os crentes? Temos obrigação de as desmascarar para que os crentes decidam em liberdade se devem continuar escravos ou livres. Só essa decisão merece respeito, não as idiossincrasias de um Deus que abomina o prazer, o amor e a felicidade.

Comentários

Manolo Heredia disse…
Olhe que não, doutor!
O muçulmano afegão e sua esposa, alimentados a pão ázimo e a cabrito por sua vez alimentado de pastos naturais, os três, ele, ela e o cabrito, nascidos e criados no ar puro das montanhas, têm condições objectivas para, após o Ramadão, dar uma queca 100 vezes mais saborosa que um casal de europeus, alimentados a costeletas de porco de aviário e Coca-Cola, encharcados de Viagra e Prozac, e ainda por cima com um saco de plástico lubrificado artificialmente separando suas mucosas sensíveis.
Em vez de ter pena deles, devíamos antes invejá-los! Não necessitam de vídeos eróticos como motor-de-arranque, nem se sexo oral ou outros preliminares pagãos para atingirem orgasmos alucinantes!
Manolo Heredia:

Prefiro viver num país democrático do que numa teocracia; e à lei de Deus prefiro a dos homens.

A sharia, praticada em vários países onde o Ramadão é cumprido integralmente, é a demência feita jurisprudência.

A civilização e a modernidade são incompatíveis com crenças arcaicas que os seus defensores exigem levar ao resto do mundo.

Sem laicidade não há liberdade.
Anónimo disse…
Será que não haverá outra forma de ironizar com coisas SÉRIAS senão a que está patente no 1º comentário? Acho de muito mau gosto e deslocado! Desculpe.
Manolo Heredia disse…
Eu também prefiro viver numa democracia, pois nasci na Europa e estou habituado a esse tipo de convivência, mas, quando leio artigos ou posts como este, só me lembro dos missionários quando foram para África (e não só) salvar os pretinhos das chamas do inferno.
Ainda sou do tempo (vejam só!) em que os jornais do ocidente glorificavam a valentia e a abnegação do povo Afgão na guerra contra os russos. Agora, como são os ocidentais a quererem dominá-los já a conversa é outra, e vale tudo!
E senhoras e senhores que se dizem agnósticos e ateus, como você (suponho em seu abono), colaboram na campanha ocidental de mentalização a favor guerra-santa da democracia (essa tal liberdade cada vez mais balofa) e dos direitos-humanos! Os mesmos que são esquecidos por nós, ocidentais, sempre que os nossos interesses económicos ficam realmente em perigo.
Quem somos nós para termos s pretensão de classificar essa gente como infelizes. E nós, somos felizes?
Manolo Heredia:

Tem razão quanto ao silêncio da imprensa internacional quando os talibãs serraram soldados soviéticos vivos no Afeganistão.

Depois serraram os americanos e nós ficámos calados....

Não tem razão quando, como aqui no Ponte Europa, temos denunciado a ferocidade que resulta da intoxicação feita pelo Corão.

Tal como a Tora e a Bíblia estamos a falar de «manuais de maus costumes...»

Mas há outros...
Manolo Heredia disse…
Mais uma vez discordo! Sorry!
A cultura é uma extensão do armamento de que o ser humano dispõe para fazer face às ameaças que tendem a destruí-lo. É uma arma de sobrevivência. A Religião, em particular, é a parte da cultura que se ocupa de ensinar o homem que vive em sociedade a não tirar a ilação natural (que os outros animais tiram) da melhor estratégia a seguir quando se joga o dilema do prisioneiro (esse jogo a que jogamos a toda a hora). Isto é, dedica-se a ensinar que o egoísmo puro não é o melhor comportamento estratégico para a sobrevivência quando se vive em sociedade. Foram as religiões que permitiram ao Homem chegar ao nível de domesticação que, por exemplo, o torna capaz de se levantar todos os dias bem cedo para ir para o trabalho, ou, outro exemplo, para não roubar comida sempre que sente fome.
Se há religiões (ou deuses) que parecem mais cruéis que outras é porque cada religião evoluiu de forma diferente ao longo dos séculos. Todas evoluíram de acordo com as necessidades de cooperação inter-indivíduos que a sociedade exigia, de acordo com as conhecidas regras da evolução darwinista aplicada aos memes.
Anónimo disse…
Manolo, agora tenho o dever de dizer que gosto do seu discurso, sem a "ironia" do primeiro.
Nem preciso de me alongar mais, pois já aqui, comentando outro post, defini a minha posição quanto à "democracia" ocidental e aos males feitos à humanidade que ela oficializa.

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