Uma rábula cristalina como a água…

Ninguém pode tocar na nova fada encantada que - para Pedro Passos Coelho - representa a proposta de revisão constitucional elaborada [encomendada], em nome do PSD, para futura discussão em sede própria – na Assembleia da República.
Qualquer critica, qualquer interpelação, merece uma contundente e azeda resposta, na hora.

Para começar, os agentes políticos [eleitos] para uma eventual revisão constitucional estiveram a leste [arredados] do processo, conforme de deduz dos lamentos trazidos a público pelo deputado J Pacheco Pereira e, ao que parece, partilhados por outros parlamentares do PSD [José Eduardo Martins, António Preto, …] link

Este processo de revisão socorreu-se das mais modernas tecnologias de marketing. Teve um "ghostwriter" - Paulo Teixeira Pinto - uma “vernissage” há poucos meses [com um desajeitado questionamento do Estado Social] e, de seguida, perante o descalabro da reacção pública [revelado em posteriores sondagens] é fabricada uma versão corrigida e aumentada que, para não perder a cara, mereceu o “imprimatur” do restrito núcleo de decisão partidária do PSD.

Aparentemente a argumentação do ultra-moderno revisionismo laranja é que a Carta Magna do regime deve ser transparente como a água… [onde "todas" as aleivosias possam nadar!].
Pedro Passos Coelho, sobre a proposta apresentada, dixit:
"uma espécie de máximo denominador comum que se encaixe bem com todos…" link

Na verdade, foi buscar outras propriedades da água [que não da sua pureza e limpidez]. A proposta enfatizou outras características. É incolor, insípida e inodora.

Na realidade, o vazio desejado não é mais de que um desajeitado striptease do conteúdo ideológico e doutrinário [o Estado Social é desde Bismark um dos pilares da doutrina política europeia] que moldou o actual regime político, emergente do 25 de Abril.
Mas o recôndito objectivo – que por vezes muitos stripteases ocultam – é um indefinido e concupiscente espaço aberto, onde caberiam todo o tipo de experiências políticas. Ad libidum.
A vacuidade neo-liberal assim o ordena. E, na ânsia de mudar para encaixar tudo e todos [como preconiza o dirigente do PSD], a Constituição, uma vez revista, deve-se adaptar aos programas partidários e não o contrário…

As questões fundamentais são estas:

- Desejam os portugueses trocar a actual constituição por um mero, permissivo e venal documento pragmático?
- Desejam os portugueses empobrecer o regime democrático definido numa Lei Fundamental que regula os poderes públicos e estabelece amplas garantias de cidadania, em nome de fantasiosa "abertura" liberalizante e/ou populista?

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