ILUSÕES E UTOPIAS

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa

Manuel Alegre ("Trova do vento que passa")

Cavaco Silva, na sua campanha eleitoral disfarçada de exercício do cargo de Presidente, arranjou um estribilho: verbera aqueles que, segundo ele, "semeiam ilusões e utopias", referindo-se manifestamente ao seu mais directo opositor, Manuel Alegre, que assim acusa do "defeito" de ser poeta, o que, para ele Cavaco, seria incompatível com o cargo de Presidente da República.
Esquece-se - ou melhor, finge não se lembrar - de que foi graças aos semeadores de "ilusões e utopias" como Manuel Alegre, Mário Soares, Jorge Sampaio e tantos outros como eles que foi possível derrubar o aparentemente inderrubável regime fascista em Portugal.
Enquanto esses "poetas", em Portugal ou no exílio, na clandestinidade ou na prisão, "semeavam a utopia" da liberdade e da democracia, os prosaicos "realistas" como Cavaco davam-se bem com a ditadura, na qual iam tratando da sua vidinha, sem fazer ondas, mas à cautela evitando também comprometer-se demasiado com o regime, não viesse ele a ser derrubado pelos "utópicos", como veio a acontecer.
Portugal precisa evidentemente de bons técnicos para governar, administrar e gerir o País, mas para a Presidência da República precisa de tudo menos de um tecnocrata ou um burocrático guarda-livros. Para a Presidência da República precisa de alguém com alma, que seja capaz de representar Portugal e o orgulho de ser português, de devolver aos portugueses a sua auto-estima, de "semear" a esperança e a confiança no futuro.
Mário Soares e Jorge Sampaio também "semearam utopias" quando tal foi necessário, e foram grandes Presidentes da República.
Manuel Alegre também o será!

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