O opífero Mundo Europeu…

Cartoon de Peter Schrank

O pedido de auxílio de Portugal à UE é notícia no Mundo. link; link ; link; … . Sobre esta nova situação existem múltiplas interpretações.


Primeiro, existe uma [excessiva?] expectativa que esta medida “acalme” os mercados financeiros. Todavia, esta expectativa não tem sustentação nos anteriores bailouts da Grécia e da Irlanda. A análise recente dos juros da dívida pública a 10 anos mostra os seguintes valores: Grécia - 12,5% e Irlanda - 8.9%. Os últimos juros atribuídos pelo mercado ao leilão de títulos de Tesouro a 10 anos portugueses foi de 8.3%. À primeira vista, mesmo sem intervenção externa, colocávamo-nos abaixo dos valores dos países já “resgatados” !.


Em segundo lugar, esta medida – apesar das repetidas declarações dirigentes políticos espanhóis – causa algum “pânico” em Espanha. Para quem observa a contínua pressão dos “mercados financeiros” sobre o euro não restam dúvidas de que a Espanha é o próximo alvo. A resistência de Portugal em solicitar auxílio externo funcionou como um escudo para a situação espanhola. Muito embora a situação espanhola seja diferente de Portugal [este é um slogan que usamos em Portugal em relação à intervenção na Grécia] a verdade é que “esse escudo” desapareceu. E, como sabemos, a UE continua a discutir [e a adiar] os processos e os meios para enfrentar globalmente a crise do euro… Pelo que, a Espanha não deverá estar tão descansada como aparenta. link


Terceiro, existe uma convicção generalizada de que o “auxílio externo” a Portugal ao resolver problemas imediatos de Tesouraria acarretará, inevitavelmente, um agravamento da situação económica. A reacção da bolsa, durante o dia de hoje, mostrou que a maioria dos bancos melhorou as cotações. Isto é, o “auxílio” é acima de tudo uma intervenção financeira. Mas este “auxílio” terá pesadas contrapartidas políticas, económicas e sociais que, extrapolando o âmbito bancário, acenam com o espantalho de uma longa recessão. E, a estagnação [ou a recessão] económica, terá como consequência uma contínua dependência de “auxílios externos”, o aprofundamento da dívida externa, descontrolos orçamentais, i. e., estamos a alimentar um circulo vicioso.


Por último, o pedido de “auxílio” externo de Portugal, foi recebido com alívio [entusiasmo] nos organismos da UE, está longe de representar para a Europa um período de tréguas face ao “assalto” dos mercados ao euro. É mais um negócio do mundo financeiro, a expensas de pesados sacrifícios de um povo, desenhado a médio prazo [3 anos?].


O Governo vai ter imensas dificuldades em consensualizar as contrapartidas que este “auxílio” necessariamente exigirá. Terá uma forte oposição dos sindicatos, dos partidos à esquerda do PS, e nos partidos do centro-direita [PSD e CDS], que têm defendido a intervenção externa, existem os primeiros sinais de distanciamento. O PSD ao desejar que este problema seja resolvido [definitivamente] pelo próximo Governo estará sub-repticiamente a insistir na tal "ajuda intercalar", tentando ganhar tempo até às eleições. Esta opção já foi liminarmente rejeitada pela UE. O CDS, por sua vez, foge com o rabo à seringa e, hoje, Paulo Portas introduziu um novo dado: “o apoio condicional”…

Continuam, portanto, muito precárias as condições políticas para efectivar este pedido de “auxílio” à UE através do FEEF e, tanto pior, em relação ao FMI. O Primeiro Ministro ao anunciá-lo envolveu o Presidente da República. Fez bem. Tornou impossível que Cavaco Silva continue a pairar à margem da crise limitando-se a cumprir o calendário constitucional. Veremos o que é essa tal “magistratura activa”. Na verdade, estamos no primeiro patamar da crise política interna, perante uma Europa exigente, mas sem coesão política e económica. Logo, inflexível e implacável nas questões financeiras.


Recordando Eça:

"Hoje que tanto se fala em crise, quem não vê que, por toda a Europa, uma crise financeira está minando as nacionalidades? É disso que há-de vir a dissolução. Quando os meios faltarem e um dia se perderem as fortunas nacionais, o regime estabelecido cairá para deixar o campo livre ao novo mundo económico". In “Distrito de Évora”... no longínquo ano de 1867!

Comentários

Anónimo disse…
And Roubini Opinion?
Anónimo disse…
Estamos mais próximos da Alemanha do que de Portugal (Zapatero dixit)

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