Novos Secretários de Estado: no reino do exotismo...

(Foto): Carlos Nuno Oliveira, novo Secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação.

Hoje, Pedro Passos Coelho foi recebido de manhã - em Belém - por Cavaco Silva e, ao fim da tarde, a Presidência da República (no seu site oficial) divulgou os nomes dos futuros Secretários de Estado [que tomam posse amanhã]. link

Nada de surpreendente. Pior, todos os riscos - que já foram apontados a quando da nomeação do elenco ministerial – estão aqui empolados. Muitos destes "adjuntos" dos Ministros são ilustres desconhecidos da vida pública, embora possam ter brilhantes carreiras profissionais ou empresariais. Muitos deles fizeram carreira nos aparelhos partidários, outros são oriundos do mundo empresarial e os restantes foram repescados do "ambiente técnico-profissional" ou, ainda, nos antros académicos. Uma mescla pouco tranquilizadora face à difícil situação económica e financeira do País. Se a condensação e os arranjos agregadores de ministérios ditavam que esse “malabarismo político-experimental governativo” haveria de ser compensado por um conjunto de Secretários de Estado eficientes para a governação em áreas concretas da(s) política(s), hoje, face à lista de nomes divulgada, o País ficou em suspenso e apreensivo. Estas nomeações não oferecem aos cidadãos qualquer garantia de estabilidade governativa, nem são tranquilizadoras quanto ao propalado desígnio de “não falhar”.

O exotismo continuou a reinar. Na posse dos ministros do XIX Governo Constitucional tivemos, p. exº., o embate do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, hoje, aparece uma Secretaria de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação… Isto, para um Executivo que defende maior protagonismo da sociedade civil e em contrapartida menos Estado não passa de um devaneio, para não dizer de um contra-senso.

Esperemos que ao fim de 100 dias de exercício [o tradicional "estado de graça"] o Governo de Passos Coelho não esteja à beira de uma remodelação. Porque se tal situação ocorrer será péssimo para os portugueses… já não falo do "nervosismo dos mercados"!

Comentários

Morcego disse…
Sem querer contrariar a ideia central do post, não posso deixar passar em claro algumas passagens. O que quer dizer com "antros" académicos? Eu sou académico e esta terminologia é claramente ofensiva. Antros?
Não devem ser as "brilhantes carreiras profissionais" que devem servir de trampolim para cargos públicos de elevada responsabilidade? Não deve ser isso exigido em contraponto ao carreirismo partidário que assola a nossa vida pública?
Mais uma vez sem querer discutir a maior ou menor valia da equipa de secretários de estado, a utilização deste tipo de argumentos e linguagem não enobrece e ilumina a discussão.
e-pá! disse…
Morcego:

Concordo que a palavra "antro" é inapropriada.
A expressão que me parece adequada, depois de reler o texto, será "campus".
Não existiu da minha parte qualquer intenção de desvalorizar ou menosprezar o estatuto inerente à actividade académica.
O que queria deixar subjacente é o meu entendimento de que um bom académico não será necessariamente um bom político.
Morcego disse…
ok.
Concordo que um bom académico não será necessariamente um bom político e mais ainda, acho que a probabilidade de o ser é moderada. Se, por exemplo, falarmos de um gestor, penso que essa probabilidade aumenta substancialmente.
No entanto, a questão central que deve ser discutida é se a carreira política deve ser entendida como qualquer outra ou se devem ser as "brilhantes carreiras profissionais" que devem servir de trampolim para cargos públicos de elevada responsabilidade. Eu alinho pela última e penso que o carreirismo político é de evitar e tem sido uma nódoa negra na nossa democracia. As jotas transformaram-se em escolas de politiquice, de compadrio e autênticos centros de emprego. Os nossos 2 últimos PM são um mau exemplo disso, por (quase) nada terem feito na vida para além da política.
Desta forma, sem querer analisar as pessoas em causa (se é para fazer isso refira-se os nomes) penso que, em geral, o sinal dado na formação deste governo (mais nos ministros do que nos secretários de estado) é positivo e merece o meu respeito. Se vai dar resultado não sabemos e provavelmente o risco da inexperiência política virá à tona.
Mas caro e-pá, oxalá (tenho poucas esperanças) que em tudo aquilo que vai para além do governo (nomeações, pseudo-contratações, destacamentos, etc...) fosse seguido o mesmo exemplo. Significava uma ruptura com o passado e um exemplo bem positivo para todos nós, no sentido que o mérito é valorizado.
Segundo o Dicionário de sinónimos,
antro,àlém de significar caverna, abismo,cavidade,cova,covil,lapa,
furna,gruta,masmorra,cárcere,cafua,
espelunca,que são de facto termos horríveis,também significa seio, que afinal até nem soa mal embora
seja um tanto ou quanto íntimo ou
reservado.E seio,por sua vez,pode
significar âmago,ambiente,regaço,
centro,grémio,redil,recesso,coio,
sede,segrêdo,intimidade,meio,auge.
Talvez o articulista e-pá!que eu
gosto de ler,quizesse referir-se a
SEIO,a SEDE,a CENTRO,a REDIL ou a
GRÉMIO.

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