O XIX Governo Constitucional

Cá temos o esboço do novo Governo CDS/PSD, e como já deveria ser de prever, a montanha pariu um rato. Em tempos de vacas magras, os putativos ministros com boas credenciais não estão interessados em assumir responsabilidades ministeriais.

Quanto ao PM, Pedro Passos Coelho, já são conhecidas as suas limitações. E começa já o seu percurso como PM com uma pesada derrota parlamentar, perfeitamente evitável, fruto da sua teimosia em colocar Nobre como presidente da AR.

Paulo Portas, Ministro dos Negócios Estrangeiros, será claramente o parceiro pensador desta coligação, e o seu poder negocial surge reforçado após o imbróglio Nobre. Portas tem experiência de Governo anterior na pasta da defesa, e não será de prever que seja desgastado por uma pasta que comporta pouco risco de desgaste político. Portas como MNE é apenas um eufemismo para eminência parda do regime. Passos Coelho que proteja as costas.

Para o Ministério das Finanças, o mais crucial no momento em que vivemos, ficou claro que o PSD não tinha nenhum trunfo, e parece ser de uma evidência meridiana que Vítor Gaspar não terá sido a primeira ou mesmo a segunda escolha. Parece que é competente, vamos a ver... O comentário de Miguel Sousa Tavares na SIC relativamente ao facto de Milton Friedman ser o guru de Gaspar não traz particular tranquilidade.

Álvaro Santos Pereira, Ministro de Economia, parece ser um académico baseado no Canadá com bastante obra académica publicada sobre a economia portuguesa. Pode ser que uma visão de "outsider" possa ser útil para a sua tarefa, mas também pode ser que a enorme diferença entre os métodos de trabalho e de administração pública no Canadá e em Portugal neutralizem a mais valia que este ministro poderá trazer para o Governo.

Pedro Mota Soares, do CDS, será o Ministro da Segurança Social. Para além de ser um aparatchnik jotinha, não se compreende como é que o seu perfil se encaixa no ministério que irá tutelar. E não augura nada de bom, até pela experiência passada, essa pasta ser tutelada pelo CDS. Objectivamente, o CDS tem uma pré-compreensão ideológica, muito vincada, da segurança social como forma de caridade, e não de direito social de cidadania num espírito de solidariedade.

Miguel Macedo, Ministro da Administração Interna, parece pouco mais ser também do que um aparatchnik do PSD, tal como Paula Teixeira da Cruz, indigitada para a justiça. Parece-me, num sector tão decisivo como a justiça, que é uma escolha muito insossa. A única credencial que a nova ministra parece ter para este cargo é o de ser Vice-Presidente do PSD. Miguel Relvas, nos assuntos parlamentares, adequa-se ao cargo devido à sua proximidade política com o PM, o que é essencial neste cargo de "relais" entre Governo e parlamento.

Assunção Cristas, do CDS, vai tutelar o verdadeiro "albergue espanhol" do Ministério do Ambiente, Agricultura e Território. Não me parece que o seu perfil corresponda minimamente a essa pasta, até porque, sendo uma mulher elegante, não me parece que seja desejável que utilize o truque das "patilhas à lavrador" tão querido do seu chefe. Parece-me, do seu currículo, que estaria melhor na pasta da justiça, para a qual parece estar bastante mais qualificada que Paula Teixeira da Cruz...

Paulo Macedo na saúde é uma escolha estranha. Um homem da banca e dos seguros, um Governo ultra-liberal, um SNS a desmantelar (uups, a "reestruturar").

Nuno Crato no Ministério da Educação parece ter o perfil adequado para o cargo. Vamos a ver, parece que na FENPROF não gostam dele.

Aguiar Branco na defesa não aquece nem arrefece. É daqueles ministérios que não servem rigorosamente para nada, mas que têm que existir, e que poucas qualidades exigem dos seus titulares, que causam o mínimo desgaste político e que dão prestígio. Um bom lugar para colocar um adversário político interno.

Finalmente, a Secretaria de Estado da Cultura. Parece-me ser muito grave este "downgrading" de Ministério a Secretaria de Estado. Não só revela uma visão ideológica segundo a qual a cultura é dispensável, mas terá seguramente repercussões em sede de financiamento. No entanto, Francisco José Viegas parece ser um SEC competente.

Comentários

e-pá! disse…
É o Governo dos "mais":

- mais pequeno
- mais jovem
- mais inexperiente
- mais tecnocrata
- mais académico
- mais ultraliberal...
...envolvido numa situação (política, financeira, económica e social) das mais graves e delicadas.

Com tantas conjugações de mais esperemos que não deslize para o seu contrário: menos feliz (na "arte de governar")!
Manuel Galvão disse…
A brigada dos pau-mandados!

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