News of the World


Tablóide é um jornal publicado em dimensões reduzidas, i.e., com metade das dimensões “padrão” (a dimensão standart é de 50x30 cm com margens de 2 a 3 cm) . Tornaram-se jornais populares não só pelas reduzidas dimensões – o que permite uma maior divulgação (difusão e circulação) – mas também pelo controverso conteúdo (escândalos de todo o tipo) com recurso a um esparsos textos, alguns gráficos e muitas fotos em que a capa é normalmente espalhafatosa, muito colorida e, algumas vezes, provocatória, quando não, ambígua. Este processo veio substituir os periódicos densos e compactos do início da Revolução industrial (impressão com linotipos) e teve a seu apogeu com a vulgarização da edição electrónica (impressão em offset), i.e., a “impressão rápida”.

O 'News of the World' (NoW) foi um jornal dominical com um fulgurante sucesso de vendas na Grã-Bretanha. Começou em 1843 como um broadsheet, i. e., como uma longa folha de tamanho standart (55 cm) que difundia “notícias populares” e só em 1984 foi transformado em tablóide. De início foi um jornal de fácil acesso (barato) e dirigido para as classes trabalhadoras, onde persistiam largas bolsas de iletracia. Rapidamente transformou-se num veículo de escândalos (sexo, crimes passionais e “imoralidades”….

No início do séc. XX a sua tiragem atingia cerca de 3 milhões de exemplares e inspirou o aparecimento de outros jornais similares como o “Sunday People”, “Daily Mail”, “Daily Mirror”, etc., ainda hoje nas bancas.
O lema deste jornal era: "All human life is there"!. Em 1950 tornou-se o jornal mais vendido do Mundo com uma tiragem semanal à volta dos 9 milhões de exemplares.
Em 1969 o jornal passou para as mãos do magnata Rupert Murdoch e geraram-se alguns atritos internos relativas a uma certa incompreensão de Murdoch (de origem australiana) acerca das tradições britânicas deste periódico dominical. São célebres as suas pelejas e desavenças com Robert Maxwell, outro grande proprietário de meios de comunicação social (um “mago dos média”) – com ligações à Mossad – cujo trajecto desembocou num escândalo financeiro (apropriação ilegal dos fundos de pensões do Mirror Group).

Maxwell, desde o final da II Guerra Mundial construiu um imenso império na comunicação social que começou pela Pergamon Press e estendeu-se até construir a partir da British Printing Corporation a Maxwell Communications Corporation.
Os seus primeiros percalços sucedem na década de 80 quando perde para Murdoch os jornais "The Sun" e "News of the World”.
A sua misteriosa fuga para o largo das Canárias, em 1991, a bordo do luxuoso iate Lady Ghislane acabaria por lhe ser fatal. Desapareceu (faleceu) à boa maneira shakespeariana e o seu corpo foi encontrado a boiar no Atlântico. O seu funeral realizou-se em Jerusalém no bíblico Monte das Oliveiras com honras e ritos próprios de um chefe da Mossad (polícia secreta israelita).

Rupert Murdoch tem um percurso no domínio dos média e dos audiovisuais assombroso. Dono do News Corporation (News Corp.), uma holding que engloba os mais importantes tablóides do Mundo (New York Post e The Sun) a Fox Network (e junto com ela o MySpace e mais 35 canais de televisão), a 20th Century Fox, o jornal The Times de Londres, a DIRECTV, a editora Harper Collins Publishers, a Sky Italia e mais recentemente a Dow Jones & Company e junto com ela o jornal americano The Wall Street Journal.

É, também, um homem controverso. Nascido australiano e posteriormente naturalizado americano tornou-os num ferrenho político conservador. São exemplares alguma das suas concepções. Defende o regime comunista chinês (tem um acordo com a TV chinesa de satélite) e recusou-se a publicar na (sua) editora HarperCollins um livro que denegria (na sua opinião) um ex-líder do Partido Comunista chinês…
É de um estereotipado pragmatismo ultraconservador e instado a comentar a guerra do Iraque (é um admirador de Bush) comentou: a maelhor coisa que a guerra do Iraque poderia oferecer ao Mundo seria o barril de petróleo a 20 dolares!

Murdock tem um comportamento e uma personalidade difícil de definir mas em toda a sua actuação existe um denominador comum: é um fanático do dinheiro. As suas atitudes e opiniões são condicionadas pelos lucros que o seu empório mediático e televisivo possa arrecadar. O resto não conta.
Na verdade a predominância de Murdock cresce (desmesuradamente) com o desaparecimento de Maxwell. Passou a controlar estúdios de cinema, canais de TV pagos (FOX), operadoras de TV por assinatura (SKY e DirecTV), sites de relacionamento (My Space) e jornais, entre eles, o New York Post.

No Reino Unido a carreira do 'News of the World’ continua a gerar fabulosos lucros, embora desde 2006 começassem os escândalos. Exactamente numa área muito sensível para os britânicos: – escutas a membros da família real inglesa.
Em 2007, a justiça inglesa condenou Clive Goodman (correspondente do jornal para assuntos da realeza) e o investigador Glenn Mulcaire por escutas ilegais. Segundo The Guardian cera de 3 mil pessoas foram submetidas a escutas ilegais (celebridades, desportistas, políticos, jogadores de futebol, apresentadores de TV, familiares de vitimas do atentado terrorista de Julho 2005 e de militares mortos no Afeganistão, etc.). Um longo repositório de violações de deveres deontológicos.

A Scotland Yard reabriu as investigações [já tinha investigado em 2006 e 2009] sobre as escutas do News of The World em Janeiro passado, após a denúncia de alguns casos.
No centro de todo este escândalo jornalístico está uma protegida de Murdock, Rebekah Brooks que chegou a ser editora-chefe em 2002 e é actualmente a directora executiva do grupo mediático que controla o News of the World. Paralelamente, existem outras implicações políticas. Andy Coulson editor do News of the Word em 2006 (data da investigação do especialista da realeza) acabou por ocupar o cargo de porta-voz de Cameron (1º. Ministro britânico) até ao início deste ano (as investigações policiais obrigaram à sua demissão). Tal facto não deixou de causar incómodo (e polémica) nos círculos próximos do Governo de Sua Majestade…

Bem, uma longa história de depravação jornalística digna de um livro de John Le Carré (se o consagrado autor decidisse dedicar-se aos subterrâneos do jornalismo de investigação…).
Mas para além disso um repositório de violações deontológicas que alimentam a imprensa dos escândalos, da fofoquice, da iniquidade e quiçá, da perseguição política, pessoal e afectiva. Aguardemos a investigação em curso.

Murdock pretendeu iludir as suas amplas responsabilidades encerrando o jornal e preservando Rebekah Brooks. Não o conseguiu.
Rebekah foi forçada – pelos acontecimentos - a demitir-se e tanto Rupert Murdoch como o seu filho, James Murdoch, vão prestar declarações perante o Parlamento britânico.

Estamos, portanto, longe de duas coisas: do cabal e exaustivo apuramento de responsabilidades por estes iníquos métodos de investigação jornalística e da rejeição desta imprensa tablóide que vende escândalos, crimes (de faca e alguidar), inconfidências (políticas e de alcova), viola a vida privada, cultiva o voyeurismo, i.e., devassa alguns cidadãos e instituições para gáudio e satisfação de secretos e inconfessáveis apetites de mexeriquice (para não usar uma expressão mais dura).
Para já, o grande sentimento de qualquer cidadão com direito a uma informação ampla, correcta, exacta, límpida é o de uma profunda indignação. E a exigência de uma exemplar punição dos responsáveis.

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