Por que motivo desaprovo o manifesto português de apoio à Syriza ?


Em primeiro lugar porque não me parece que os direitos humanos tenham sido violados pelos partidos que, depois da ditadura dos coronéis, ocuparam o poder na Grécia, depois  porque a referida coligação integra formações cujo amor à liberdade não coincide com o meu conceito de liberdade e, finalmente, porque as personalidades que subscrevem o documento divergem tanto entre si que a dissonância é o único traço de união.

A discordância da Syriza não me impede de repudiar a atitude da Troika, a hegemonia dos bancos e a chantagem do capital sobre os países. Talvez a idade me tenha tornado conservador ou a experiência me tenha feito suspeitar das exaltações e utopias. Quiçá!

Ignorando a alternativa ao acordo de resgate, que o veredito popular a favor da Syriza tornará nulo, e não prevendo que, pelo menos, o favoritismo eleitoral lhe permita formar um governo estável, verificar-se-á a Lei de Murphy , isto é, tudo o que pode correr mal na Grécia, correrá pior e da pior maneira ou, de forma mais clássica, «se existe mais de uma maneira de uma tarefa ser executada e alguma dessas maneiras resultar num desastre, certamente será a maneira escolhida por alguém para executá-la". Temo que seja essa a opção desesperada dos gregos.

É vulgar a comparação com Portugal, aliás legítima, e o sofisma de que não pode haver um bom governo com o PS ou com o PSD, dois partidos que não se distinguem. São duas afirmações gratuitas que visam empurrar o eleitorado para situações radicais. É a versão simétrica do anticomunismo primário. Recuso tal maniqueísmo e tal chantagem.

Pode haver um bom governo do PS ou um bom governo do PSD, se as circunstâncias e os ministros estiverem à altura da tarefa. Bem sei que esta afirmação causa brotoeja nos nostálgicos dos amanhãs que cantam e nos saudosistas do tempo em que o respeitinho era muito bonito. Infelizmente não conheço experiências internacionais em que a paz, a liberdade e o bem-estar tenham sido asseguradas por uma coligação de esquerda radical.

Nesta altura, em que muitos banqueiros deviam estar a ser julgados, são os políticos os execrados e a defesa destes últimos, se moderados e bem intencionados, é uma atitude politicamente incorreta.

Seja.

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