Portugal acordou para tirar o sono a quem nos quer mortos


A grandiosa manifestação que, de norte a sul do país, trouxe à rua mais de um milhão de portugueses, transportou-me ao primeiro 1.º de maio, em Lisboa, no estádio que passou a ter o nome da data emblemática, então carregado de júbilo, hoje cheio de raiva.

É natural que em Belém se pense nas contas que o inquilino tem de pagar ao fim do mês e em S. Bento nas contas que o PM tem de prestar dos meses que leva na imposição da agenda que escondeu dos portugueses e para cuja execução aceitou os piores carrascos.

Por mais surdos que sejam, por maior cegueira que os ataque, o autismo de que deram provas não consente mais que o PR finja que nada se passou e o Governo pense que ainda tem legitimidade para prosseguir com as piores medidas contra os mais frágeis.

As centenas de milhares de portugueses descontentes são um bom argumento para este Governo dizer à Troica que a insensibilidade que o domina é incompatível com a raiva que suscita e as receitas que, em conjunto, acordaram.

Hoje, o Povo mostrou que há mais vida para além do sofrimento, que há indignação que baste para pôr fim ao Governo que apostou em proteger o capital financeiro à custa dos pobres. A educação, a saúde e a sobrevivência não são negociáveis com o bando que conquistou o poder com uma agenda que logo repudiou.

Este Governo esgotou o prazo de validade.  Viva a liberdade! Viva a democracia! Viva a República!

Comentários

É isso mesmo.
Esta manifestação foi pelo menos tão grandiosa como a de 15 de setembro, mas a meu ver foi ainda mais importante, por duas razões:

1. Enquanto a manif. de 15/9 foi em grande parte provocada pela revolta contra uma medida concreta do governo - a T.S.U. - esta não teve um móbil específico; foi contra o governo e as suas políticas em geral. Tanto podia ter sido ontem como 15 dias antes ou 15 dias depois.

2. O universo dos manifestantes foi muito mais diversificado. A par das pessoas mais duramente afetadas pela política de austeridade, participaram milhares de outros cidadãos da classe média cujas necessidades elementares não estão em causa e que não costumam participar em manifestações, mas que desta vez participaram, por patriotismo, por espírito cívico, por solidariedade para com os seus compatriotas mais desfavorecidos, por indignação contra a arrogância do governo. A comunicação social deu conta disso em toda a parte, mas em Coimbra, cidade relativamente pequena onde "toda a gente se conhece", o facto era constatável empiricamente. Eram inúmeros os professores universitários, profs. do secundário já "efetivos", cujo emprego não está em causa, conhecidos médicos, engenheiros, arquitetos e até magistrados.

Quer isto dizer que o governo está isolado. Já só é apoiado pelos seus "boys", por banqueiros, por "gestores de topo" com inúmeros "tachos", pelos muito ricos e por alguns que são "ferrenhos" do PPD como outros são "ferrenhos" do Benfica ou do Sporting.
Como se diz no post, este governo esgotou o prazo de validade.
Este comentário foi removido pelo autor.
Não poderia estar mais de acordo com o que escreveu Carlos Esperança e António Horta Pinto. O 2 de Março será provavelmente a data que balizará o fim de um ciclo, o de uma aparente apatia, e o início de outro, o da intervenção ativa a caminho de uma radical mudança.
O governo, o Presidente da República e os partidos saíram chamuscados deste grande movimento de protesto. Ficaram isolados e já nada lhes vale o recurso às manhosas táticas dilatórias e enganadoras.

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