Portugal, o concílio de Trento e a política


Depois de uma apoteótica jornada contra o Governo onde, até em Coimbra, se viam pessoas de várias condições sociais e de diferentes situações económicas, continua a luta partidária com anátemas aos adversários e afirmações injuriosas para quem leia uma bíblia diferente ou dela faça uma interpretação diversa.

Pior do que os apolíticos só os sectários. A política portuguesa continua herdeira dos concílios de Trento e Vaticano I, que moldaram os caracteres e transmitiram à política o vírus que nem a democracia conseguiu erradicar.

O país está cheio de exonerados políticos à espera de um novo partido onde amarrem e de maniqueístas que só veem a verdade única do seu partido e a traição dos dissidentes. Recuso-me a pensar que estejamos divididos entre oportunistas e sectários.

Foi assim que a dissidência do cristianismo criou o antissemitismo para com a religião donde saiu. O catolicismo saído de Trento moldou as consciências dos que permanecem fiéis a Roma tal como a dos agnósticos, ateus e dissidentes que levam para os partidos o sectarismo que resistiu ao Iluminismo e ao livre-pensamento.

A coligação PSD/CDS é legítima e não são perversos os portugueses por militarem ou simpatizarem com tais partidos. Ontem, houve militantes do PSD na manifestação que, em Coimbra, encheu a Av. Sá da Bandeira.  Perverso é o Governo na indiferença com que arquivou as promessas eleitorais, na insensibilidade social, na incompetência com que nos arrasta para o desastre e na pressa de destruir a saúde, a educação e a segurança social públicas.

Não é na luta contra os partidos ou na ostracização dos militantes que reside o combate republicano, é no combate contra a arrogância dos seus líderes, contra políticas ruinosas e contra a corrupção.

Aos detentores de verdades únicas, ungidos pela graça de uma qualquer vulgata, tenho a dizer que só prejudicam a unidade política na luta contra o desgoverno que nos aniquila e na imprescindível solidariedade de todos os que discordam do deplorável rumo que nos arrasta em direção ao abismo.

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