OS PARTIDOS E OS "INDEPENDENTES"

Caro Carlos Esperança
O seu texto, como V. mesmo reconhece, enferma de “generalização em excesso” e de “provocação propositada”. A resposta do Rui Pato que subscrevi, enferma talvez, pelo menos no meu espírito, do defeito contrário: eu estava a pensar em certos e determinados “independentes” e não em todos os que pululam por esse país fora. Esses independentes não são trânsfugas de coisa nenhuma nem muito menos “desempregados da política”. Aliás, não precisam da política para nada. São pessoas com brilhantes carreiras profissionais, que lhes dão muito mais relevo social – e porventura mais rendimentos – do que um cargo de vereador. Se intervêm na política é por espírito cívico e de cidadania. Sempre considerei os partidos essenciais à democracia.

Sempre votei em partidos, num em particular. Mas os partidos também têm muitos defeitos, o principal dos quais é justamente a “partidarite”. Os partidos organizam as listas à sua maneira, distribuindo os lugares segundo a conveniência dos militantes, e muitas vezes sem ter minimamente em conta a presumível vontade dos seus simpatizantes, que são quem de facto os elege.

Como disse, costumo votar em certo partido, mas já tive de “engolir muitos sapos”. Em certa eleição legislativa o “sapo” – ou “sapa” - que pretenderam impingir-me era mesmo tão intragável que tive de votar noutro partido de esquerda, para não votar contra as minhas convicções mais profundas. Aliás, suspeito que o meu amigo deve ter feito a mesma coisa…

 Quanto aos independentes em que estou a pensar, não se “refugiam no embuste da apoliticidade”, a sua ideologia é bem conhecida, desde muito antes do 25 de Abril, e não os move qualquer ambição de poder.

Finalmente, no caso presente nem há propriamente dispersão de votos à esquerda. O BE, que costuma concorrer às eleições, desta vez em Coimbra não concorre, aliando-se saudavelmente aos tais independentes, alargando assim a base de apoio de ambos. Em vez de um pequeno partido baseado apenas em si próprio, temos um grupo alargado, com muito mais capacidade de captar os votos dos desiludidos com os partidos tradicionais, que de outro modo talvez não votassem. Enfim, poderei estar errado – dúvida metódica – mas é assim que penso.

Comentários

Horta Pinto disse-o por mim.
Grato!
e-pá! disse…
Nunca será possível evitar a tentação de dirimir 'conflitos partidários', essencialmente de âmbito interno, em actos eleitorais. É o velho hábito de lavar a roupa suja no meio da rua.
Mas esta condicionante, em meu entender, não desvaloriza, nem diminui, o interesse democrático e a possibilidade legal de listas independentes concorrerem às eleições autárquicas. Trata-se de uma 'alargamento' de direitos de cidadania, que não incomodam nem interferem com a essência de processos genuinamente democráticos.
Penso que os 'falsos independentes' impressionam mais o cidadão que está longe e desligado do circulo concelhio em causa do que os munícipes aí residentes. Nomeadamente, em concelhos de pequena dimensão.
No âmbito autárquico as 'candidaturas travestidas' só conseguem apanhar incautos ou distraídos. Facto que não representará grande ameaça para a democraticidade dos Orgãos de Poder Local e que a natural e progressiva evolução da cidadania acabará por eliminar.
O problema nestes como em outros actos eleitorais são outros. Ou seja: o conhecimento de programas políticos específicos, a capacidade de destrinça entre o prometido e o viável e a idoneidade cívica (e não exclusivamente partidária) do grupo que decidiu ou acha imperioso, face a problemas locais, organizar-se numa candidatura.
Portanto, siga a rusga.
A 29 de Setembro teremos oportunidade de analisar o que na realidade representou um expreessivo número de candidaturas independentes, neste ano 2013.
Caro Horta Pinto:

Já pensou na hipótese de não meterem qualquer vereador?

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