O desemprego e as estatísticas

As trombetas do reino anunciam aos vassalos a queda continuada do desemprego mas as gazetas, mesmo as mais submissas, são obrigadas a dar a notícia: «O emprego caiu três vezes mais do que o desemprego».

Neste doce engano em que a chaga do desemprego está a caminho de sarar, desaparece o remédio três vezes mais depressa do que a doença. Entre a mentira dos que mandam e a realidade dos que sofrem, há razões que explicam o paradoxo.

Sabemos dos jovens que partem em busca de futuro, aconselhados pelo regente do reino e, sobretudo, pelo desespero; chegam-nos ecos de cursos onde o pretexto académico é a cortina que esconde provisoriamente a falta de um lugar para os alunos; a imaginação de outros refugia-os numa economia informal entre o biscato e o óbolo familiar; a grande fatia é, todavia, daqueles que desistiram e se escondem, em holocausto às estatísticas da propaganda e às mentiras oficiais.

No silêncio das casas de parentes há lágrimas de desespero e crispação. Nos dias piores a abulia alterna com gritos atormentados e as noites são a provação atroz de quem teme o amanhecer.

Na pungência das vidas desfeitas, a resignação e o medo são um prenúncio da explosão que se adivinha.

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