O OE-2014 e os portugueses

O Orçamento de Estado aquece os ânimos partidários e serve de pretexto para ataques ao Tribunal Constitucional. Os governantes exoneraram o pudor do seu comportamento e a dignidade dos hábitos, enquanto instituições europeias, a rogo, fazem coro com eles.

Não basta a pobreza, que se agrava, cresce a falta de vergonha, que campeia à solta.

Enquanto o processo dos submarinos mergulha na prescrição, reúne-se um coletivo de juízes para julgar um larápio adolescente que roubou três pizas.

Centenas de milhares de desempregados vão esquecendo o passado sem verem qualquer futuro. A fome, a fome violenta, que debilita o corpo e enfraquece a dignidade, já bateu à porta de milhares de portugueses. E os mais ricos, entre os ricos, estão cada vez mais ricos, num processo obsceno de transferência de riqueza a partir dos mais pobres.

O frio está aí, a fazer tiritar corpos sofridos e a lembrar a quem quer calor, que o pague. Aliás, quem quer saúde, educação ou assistência, deve pagá-las. Na bolsa de valores do capitalismo selvagem os sentimentos perderam a cotação e a solidariedade é uma vaga lembrança de outros tempos e outra gente.

A crueldade instalou-se e, por entre o frio que penetra até aos ossos, sente-se a revolta que incendeia os ânimos, num compasso de espera entre a abolia que tolhe e os ímpetos que podem explodir.  

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