Assunção Esteves, a AR e os capitães de Abril

Os capitães de Abril foram convidados, como sempre, para estarem presentes na AR, na cerimónia oficial do 25 de Abril, mas perante a liquidação sistemática das conquistas de Abril, fizeram depender a presença do uso da palavra.

Depois de ter prometido telefonar ao presidente da Associação 25 de Abril, a informá-lo sobre a decisão, a presidente respondeu, através da comunicação social:  "O problema é deles", disse sobre a eventual ausência dos "capitães de Abril" na sessão solene no parlamento.

Salgueiro Maia não precisou de um regimento para obrigar Marcelo Caetano à rendição e tomar o Quartel do Carmo. Bastaram-lhe alguns pelotões, a coragem, a determinação e a honra, para fazer germinar aí a liberdade de um povo e cumprir a missão de que Vasco Lourenço, Vítor Alves e Otelo eram os guardiões, designados pelos seus pares.

Hoje é o regimento da AR que serve de pretexto ao silêncio imposto a quem lhe deu voz e legitimidade democrática.

Somos um país estranho, onde a liberdade viajou de Chaimite, os cravos floriram nos canos das espingardas. E as únicas balas da Revolução saíram das janelas da Pide para assassinar as suas últimas vítimas.

Há quarenta anos viviam-se os últimos dias do medo impostos pelo partido único. Hoje, ofendidos e revoltados, vivemos entre os que sonham verdades únicas, os que querem o passado e os que sonham improváveis utopias .

Refocilam na gamela do orçamento os filhos daqueles que nos reprimiam, denunciavam e prendiam, dos que iam em bandos agradecer a Salazar a defesa das colónias e a morte dos jovens, dos que conviviam com a ditadura e ovacionavam os seus próceres.

Das prisões, da tortura, da guerra e das perseguições ficaram em silêncio os cúmplices do fascismo, a remoer o ódio, e hoje, com o poder tomado pelo voto, aí estão os filhos a reescrever a História e a ofender e silenciar quem ousou transformar Portugal numa democracia e os portugueses em cidadãos.

Há cogumelos que brotam da lixeira, veneno que sobrou da ditadura, imundície de um declínio cívico e ético de quem desconhece o valor da liberdade e a honra de um país. De quem morde a mão que os alimentou.

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