Francisco e uma viagem do banal ao grotesco…

As recentes declarações do actual chefe da ICAR sobre liberdade de expressão são de um primarismo gritante e confrangedor. Quando afirma que “… se o doutor Gasbarri [organizador das ‘peregrinações papais’] diz uma palavra feia  de minha ‘mamã’ pode esperar um murro. É normal!”. link.

Sobre a liberdade de expressão existem múltiplos ‘pensamentos’ que repetidamente são trazidos à colação: “a minha liberdade tem por limite a dos outros…”; “liberdade de expressão não deve ser utilizada para ofender…”, etc.

Convinha recordar o óbvio. A liberdade de expressão é, na nossa cultura e desde a Revolução Francesa, um inalienável direito da pessoa humana, tendo como objectivo fundamental consolidar a sua dignidade e simultaneamente protege-la do livre arbítrio e das soluções de força. Poucas vezes temos ouvido esta evocação nos últimos dias. Por outro lado, pretende-se através de sinuosos exemplos, de caricaturas da realidade e da exploração do medo, vestir-lhe uma ‘camisa de forças’. E as limitações sugeridas, em nome da eficiência do combate ao Terror, pretendem passar ao lado do terrível conceito (ou acto) de censura.

A ICAR deveria ter algum pudor em teorizar sobre esta situação.  Ela historicamente tem um terrível mancha negra neste campo. Trata-se do Index Librorum Prohibitorum postura tridentina (dos meados do século XVI), que vigorará centenas de anos (até meados do século XX - 1966).  Dessa lista constaram livros de homens ilustres como Voltaire, Pascal, Rosseau, Diderot, Montesquieu (só para falar de alguns vultos da cultura francesa que os crimes do Charlie Hebdo colocaram na berra). 

O denominador comum desta longa e duradoura ‘lista de proibições’ foi a heresia que justificou muitas coisas (algumas violentas) e, no plano dialéctico, coarctou aos cidadãos a capacidade de optar e castrou muitas capacidades criativas. E deste modo espezinhou e feriu liberdades fundamentais. 

Do ‘direito à critica’, frequentemente tomado como um insulto o transito corre no sentido de  um implacável regresso ‘ao crime de blasfémia’. Um trajecto tenebroso e difícil de esconder. 
Não devemos esquecer que no 3º livro da Antigo Testamento (Levítico 24:16) está escrito: “Aquele que blafesmar o nome de Jeová certamente que será morto”!

As evasivas (ou evasões) papais desviam-se da profundidade destes assuntos e, de facto, entroncam-se num outro tema muito mais ligeiro: as rixas. Isto é desordens entre 2, ou mais pessoas, onde se esgrimem ‘golpes’ e presume-se que a reciprocidade é possível.
Tratar o trágico ‘caso Charlie Hebdo’ sob este prisma é pequenino.  Demasiado infantil. Terrivelmente vazio e grotesco.

Comentários

Julio disse…
O papa é um ator desonesto.
Basta lembrar os nunca revogados 100 anátemas promulgados do Concílio de Trento contra tudo que não viesse daquela SEITA malvada.
E não esquecer a "Unam Sanctam" do Bonifácio VIII [1302].
Segundo aquelas "bulas" não há salvação fora da SEITA papal!
.
Abaixo a seita romana e a Concordata com Portugal.

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