Santo Aníbal, santo súbito…

À semelhança de João Paulo II, as multidões reclamam em vida a canonização que tarda e a subida aos altares. Infelizmente, para Cavaco Silva, amigo da hóstia e do Governo, a intercessão com o divino só é permitida após a defunção.

Cavaco tem-se esforçado a fazer de morto, sempre que o seu Governo e a sua maioria se excedem em desmandos, mas a Sagrada Congregação para a Causa dos Santos já não tem a dirigi-la o inefável cardeal Saraiva Martins, um diligente chefe de repartição, para agilizar a adjudicação de dois milagres exigidos para a consagração pia do compatriota.

De qualquer modo só por cegueira partidária não se vislumbra no beato Aníbal a aura da santidade. Depois de um retiro espiritual, longo e profundo, enquanto o país se afundava na mais deprimente decadência ética, emergiu com odor a santidade a tranquilizar o País e, na benevolência evangélica, acentuada com a idade e a proximidade do encontro com o seu Deus, viu na evasão contributiva de Passos Coelho, ao Fisco e à Segurança Social, um mero «odor a eleições».

Que bondade! Que excelsa benevolência! Que virtuosa candura! A delinquência fiscal é uma questão de pituitária; a ausência de pagamento das prestações à Segurança Social é um mero ruído que só o ouvido interno capta; a evasão contributiva é, no fundo, uma questão de visão para os olhos que as cataratas poupam; o comportamento cívico é uma exigência que só amarga ao paladar da oposição.

Santo Aníbal pensa que a bênção perpétua que conferiu ao PSD e as indulgências plenas que atribuiu a Passos Coelho são sacramentos. Um homem assim já não é deste mundo, é um defunto precoce, com a pituitária desfeita, que o direito canónico devia levar em conta, para lhe certificar os milagres.

A casa da praia da Coelha não é a mansão de veraneio, é o mausoléu de um santo que se antecipou à defunção e desatou a fazer milagres cujo reconhecimento é urgente.    

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