Brasil a ferro e fogo…



Dilma Roussef atravessa um período crucial do seu mandato. Eleita há poucos meses para um 2º. mandato viu o Brasil emergente mergulhar num crescimento negativo em 2014 e enfrenta perspectivas de em 2015 voltar a suceder o mesmo.
De pouco lhe vale o facto das economias dos países emergentes (BRIC’s) estarem - no seu conjunto - a arrefecer debaixo da pressão da queda do preço do petróleo e das commodities. 
Na verdade, foram colocados pelas super-potências no olho de um novo furacão financeiro a que não será indiferente a valorização do dólar e o consequente disparar da espiral inflacionista em terras de Sta. Cruz.
 
Entretanto, o escândalo da corrupção na Petrobrás, a maior empresa do Brasil, que vem sendo saqueada há longos anos, ensombra ainda mais as perspectivas de futuro. A gigantesca dívida da holding brasileira a par de gestões ruinosas e da corrupção sistémica poderá empurrar o Brasil para uma recessão profunda e duradoura.

Dilma foi eleita numa segunda volta pelos ‘descamisados’, maioritariamente residentes no Nordeste, pobres, desprotegidos e afastados do desenvolvimento e que desde as presidencias de Lula auferiam de uma efectiva protecção social (Bolsa Família, auxílio Educação, auxílio gás, etc) .
 
Foi também eleita pelos novos integrantes de uma frágil classe média ("classe C") que tinham emergido da pobreza e, por opção calculista, apostaram no programa de Dilma contra a possibilidade de regressarem ao ponto de partida.
Hoje, ameaçados por esse retorno ao passado a sua vida tornou-se um pesadelo e apressam-se a retirar o tapete aos partidos políticos, PT à cabeça.

Por outro lado, a classe média tradicional (a burgesia nativa rural ou urbana) que desde a presidência de Lula estava acomodada e silenciosa beneficiando do ‘consumismo’ que se colou à emergência de uma nova e alargada classe média (40 milhões de brasileiros?), decidiu sair para a rua e manifestar-se contra Dilma e, espantoso, advogar como terapêutica um 'novo ciclo de ditaduralink link , ao que é suposto, capitaneada por militares (em conformidade com a histórica tradição sul-americana).
 
Sem querer adivinhar o futuro tudo indica que este estrato da classe média brasileira (a burguesia nacional) estará a jogar no tabuleiro errado. Um novo período de ditadura, sendo um terrível retrocesso civilizacional (e não só político), não a beneficiaria directamente já que o previsível destinatário seria o sistema financeiro.
Hoje, o poder real está na mão dos mercados financeiros, sem pátria, com ímpetos globalizantes e profundo desprezo por nacionalismos domésticos e titubeantes na área económica e absolutamente implacáveis perante situações financeiras e orçamentais debilitadas (pela crise que já se instalou).
O que está na moda para o sistema financeiro - e os países emergentes deveriam olhar para a UE - são 'os ajustamentos', as privatizações e a cura pelo empobrecimento e uma ditadura vinha mesmo a calhar.

A solução para o mar de corrupção que infesta a Petrobrás nunca será a eventual transladação da mega-empresa do Rio de Janeiro para a Wall Street – um dos previsíveis custos de uma ditadura militar - e a consequente substituição da corrupção brasileira pela especulação banqueira e bolsista global..

A resposta democrática que urge (e já demora) adoptar para injectar transparência e sanear o ambiente político brasileiro, sem o perverter, ameaça Dilma e começa a tolher-lhe os movimentos. A presidente sabe melhor do que ninguém qual o que é o modelo da solução ditatorial. E quantas vidas ela ceifará na classe média tradicional de onde Dilma é originária.
Falta por parte de Dilma um gesto amplo, decidido e eficiente que combata o imenso pântano da endémica corrupção que corrói o Brasil e que passa pelo seu próprio partido mas não se esgota aí.
Um gesto urgente, decisivo e indutor de radicais mudanças de índole democrática, republicana e reformista.
Dilma, neste momento, está posicionada nas históricas margens do Ipiranga…
Falta o grito!

Comentários

Temo que em vez do grito se oiça um gemido.

O texto aponta nesse sentido.
e-pá! disse…
Pois é.
Dilma caminha por margens muito apertadas.
Se não conseguir impor-se rapidamente tudo leva a crer que algo de sinistro está em preparação na cena política brasileira.
E se isso suceder o que se vamos ouvir não será um tímido e hesitante gemido mas um ensurdecedor coro de gemidos...
Anónimo disse…
Um estudo feito no Brasil diz que as empresas que doam e financiamento de deputados recuperam o seu dinheiro investido 39 vezes.
Segundo a "Datafolha" só 9% dos brasileiros consideram a actuação dos políticos boa, e 50% avalia como péssima.
Vai esta semana uma proposta a votação no congresso, para reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos.
Curiosamente, segundo a Unicef, dos 21 milhões de adolescentes brasileiros só 0,013% cometeu actos contra a vida.
Convém lembrar que o Brasil é o segundo país no mundo em número absoluto de homicídios de adolescentes, logo atrás apenas da Nigéria.
Mais de 33 mil brasileiros entre os 12 e os 18 anos foram assassinados entre 2006 e 2012. Nas condições actuais, afirma a Unicef, até 2019 outros 42 mil serão assassinados no Brasil.
Resta só referir que 77% destes adolescentes que morreram são negros.

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