Carta aberta ao Sr. Aníbal Silva

Excelência:

O cargo que ocupa e em que é reincidente obriga-me, por respeito à função, a dirigir-me com o tratamento adequado, mas a forma como o exerce provoca-me asco e cólera.

Não sei como pôde aparecer onde chegou sem saber o número de cantos d’Os Lusíadas, hesitando entre as divisões do poema épico e o número de vértices do paralelepípedo, e atingir a média aritmética por palpite. Mas dói a um republicano vê-lo terminar o cargo a julgar que ‘cidadões’ é o plural de cidadão, não pela ignorância em que é reincidente mas pelo rudimentar entendimento do significado do substantivo.

A forma como trata a Constituição da República, que jurou defender, não pode ser só desprezo, há de ser um problema de iliteracia, não se percebendo como pôde aceitar o título de catedrático de Literatura, outorgado pela Universidade indiana de Goa. Ainda se fosse de Teologia, fazia jus ao presidente da Comissão de Honra para a Canonização de Nun’Álvares Pereira que V. Ex.ª foi!

V. Ex.ª considera ‘mísero professor’ um catedrático, talvez pelo acesso que um decreto e a benevolência do Prof. Alfredo de Sousa lhe facultaram, isentando-o de concurso, mas a nata de um país inclui os professores universitários, para quem estima a sabedoria e, não em todos, a ética.

A forma como o Sr. Aníbal Silva geriu os negócios pessoais e as conivências partidárias levar-me-ia a recorrer a Gil Vicente para o qualificar, mas estou impedido pelo respeito ao cargo e receio das sanções penais. Aliás, nem o dicionário de Fidelino de Figueiredo, com 12 cantos porque tem dois volumes, e de que não terá ouvido falar, tem todos os adjetivos. Precisaria, para alívio da bílis e normalização das análises, de me socorrer dos almocreves que aumentaram a língua e a capacidade de desabafo com o seu vernáculo.

V. Ex.ª, Sr. Aníbal Silva, é o salazarista que a democracia guindou aos mais altos cargos e que, por ingratidão, tanto despreza. Se lhe resta um módico de decência, renuncie ao cargo e preste um serviço excecional ao País a que deixou banir os feriados identitários, o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro.

Não troque o respeito que deve ao Parlamento pela funesta subserviência às corporações que recebe em Belém desafiando os deputados da República, livremente eleitos, e ameaçando a democracia.

Demita-se.

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