O discurso da Ajuda e a dignidade da política...



Tudo farei para que o País não se afaste da atual trajectória de crescimento económico e criação de emprego e preserve a credibilidade externa”. 
Discurso do Presidente da República em 26.11.2015

Segundo o protocolo, na cerimónia de posse do XXI Governo Constitucional, usariam da palavra o Presidente da República e o primeiro-ministro empossado. Na realidade, o PR quebrou as regras protocolares e deu voz no seu discurso ao governo cessante.
Aliás, anteriormente, o PR já tinha explanado a sua sinuosa e contorcionista posição: “ A entrada em funções do XXI Governo Constitucional inicia um novo ciclo político. No entanto, os objectivos estratégicos do País permanecem…
Discurso do Presidente da República em 26.11.2015

Quando o político com mais longa carreira de exercício de poder no pós-25 de Abril vem a público confessar que a sua visão política se orienta pelo princípio de que “mudam as moscas, mas a merda continua a mesma”, os portugueses deixam de preocupar-se sobre a mudança de ciclo político que, de facto, acontecia no Palácio da Ajuda em 26 de Novembro de 2015, e questionam-se sobre o que efectivamente decidiram em 23 de Janeiro de 2011.

Aliás, no aspecto formal, a falta de sentido de Estado tornou-se absolutamente gritante quando ao longo da sua arenga só foi capaz de evocar a Constituição para recordar competências que ainda detém (por uns escassos meses) e a partir daí ameaçar o Governo que inicia funções (em princípio por 4 anos). 

O Presidente podia, numa tentativa de explicitar o que lhe vai na mente, ter publicamente embarcado na rábula da coligação PSD/CDS que, desde 4 de Outubro, proclama nos 4 cantos do Países (e nos diversos órgãos de comunicação social que colonizou) a legitimidade constitucional do Governo PS, mas recusa-lhe qualquer legitimidade política. Como se a legitimidade política não decorresse da constitucional. 
Na verdade, a ‘crise pós-eleitoral’ que o PR tão arduamente alimentou ultrapassou largamente as questões tecidas à volta das legitimidades. 
Tornou-se, tão-somente, um problema de dignidade. Melhor, da falta desse atributo que é vital para o exercício de cargos públicos.

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