Américo Tomás, Cavaco Silva e as mensagens de Ano Novo

Análogos na retórica e nas certezas, a um fê-lo a ditadura e removeu-o a Revolução, a outro trouxe-o a democracia e exonera-o a Constituição, no fim do prazo de validade.

Era original o primeiro, criado por Salazar, e genérico o que o eleitorado quis.

Tomás tem a vantagem de continuar morto. Cavaco ainda debita recados e banalidades.

Repetiu ontem uma frase profunda “O tempo é de incerteza”, frase que já tinha estado no teleponto da mensagem do Natal, quando, com a mulher, caiu na sopa de quem jantava. À hora de jantar, quando a digestão próxima aconselha bicarbonato, surgem as mensagens que enjoam. A frase é digna de La Palice mas não legitima a reincidência.

Portugal “tem o dever de defender o modelo político, económico e social que, ao longo de décadas, nos trouxe paz, desenvolvimento e justiça” – disse o inquilino de Belém a 67 dias, 3 horas e muitos minutos de abandonar o domicílio. O modelo político, que não lhe agradou, é o único que tem defesa; o económico tem arruinado a Europa e o social aumentou a percentagem de vivendas de luxo na Praia da Coelha na razão direta dos ‘sem abrigo’.

As vulgaridades do mísero PR estiveram à altura da sua estatura cultural e cívica, num melancólico final de mandato a cumprir a fúnebre liturgia de quem nada deixa em troca da raiva e ressentimento que leva.

Comentários

e-pá! disse…
"Portugal “tem o dever de defender o modelo político, económico e social que, ao longo de décadas, nos trouxe paz, desenvolvimento e justiça” como afirmou Cavaco na Mensagem de Ano Novo pode levar os 'crentes' a suspeitar que a 'crise europeia' deve ter sido obra divina.
Perdemos, com a rejeição do primeiro Governo que resolveu indigitar e dar posse pós eleições de 4 de Outubro, um exímio interprete para esta 'tese cavaquista':
- O ex-ministro Calvão de Silva revelou que (em circunstâncias adversas) "Deus nem sempre é amigo"...

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