O estertor de um presidente pio

O estertor de um presidente

Na última quinta-feira, dia 18 de fevereiro do Ano da Graça de 2016, estava o pio Aníbal Cavaco Silva, bem confessado, comungado e penitenciado dos seus pecados quando lhe surgiu o mimoso cachaço de Sousa Lara, convocado para a venera que purgava as mãos de quem a concedia e o passado de quem a recebeu.

O Infante D. Henrique só deu o nome à medalha para cuja imposição o homenageante tinha o alvará a 19 dias do trespasse. Foi assim que do professor catedrático António Costa de Albuquerque de Sousa Lara, um sólido pilar da civilização cristã e ocidental e especialista em árvores genealógicas, que os menos eruditos hão de julgar um ramo da Botânica, fez Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Decerto, amigos do peito e da hóstia, Cavaco Silva e Sousa Lara, têm em comum o ódio de estimação por José Saramago, o Nobel do nosso contentamento, que os precedeu na defunção. O primeiro não tinha ainda, publicamente, agradecido ao segundo o pio ato de censura a “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, e minguava-lhe o tempo para o fazer.

Estando praticamente todos os agentes da Pide em adiantado estado de defunção, para poder ainda distinguir mais alguns “por serviços excecionais e relevantes”, restava-lhe o bem-aventurado ex-docente da extinta Universidade Moderna, para a honraria que o ex-presidente da Comissão de Honra para a Canonização de Nun´Álvares Pereira devia ao beato censor de Saramago.

No dia seguinte, cabia ao devoto Aníbal, maldita seja a Constituição, que foi obrigado a jurar para ter direito ao alvará das condecorações, a promulgação das leis da adoção gay e do aborto, no último dia do prazo constitucional.

O Deus do Professor Aníbal, na sua infinita misericórdia, há de absolvê-lo do pecado da promulgação de tão desvairadas leis e premiá-lo com a bem-aventurança eterna. Há de ter em conta o martírio do devoto até ao próximo dia 9 de março, a partir do qual poderá entrar em perpétuo retiro espiritual antes de o chamar à sua divina presença.

Como foi breve o Carnaval e é tão longa a Quaresma! Não merecia tão rude provação o temente a Deus.    

Comentários

e-pá! disse…
O que considero um inacreditável branqueamento é a situação real e concreta, referente a Sousa Lara, que merecendo como todos os cidadãos o direito a bom nome, tem um percurso curricular específico, p. exº., enquanto vice-reitor da extinta Universidade Moderna (encerrada em 2008) e que tem vindo a ser publicamente escamoteado.

O atual laureado com a Ordem do Infante D. Henrique foi então implicado num processo judicial acusado de "associação criminosa, gestão danosa, apropriação ilícita, burla, falsificação de documentos e corrupção", tendo sido condenado a 2 anos e meio de prisão, sendo a pena suspensa por 2 anos. Só foi absolvido do crime de associação criminosa pesando no seu currículo a condenação pelas restantes acusações.

É obvio que cumprida a pena todo o cidadão tem o direito de ser reintegrado na sociedade.
Mas não será tão óbvio que possa merecer à posteriori honrarias ou prebendas atribuídas à margem dos sobressaltos vividos ou das admoestações sofridas.

Só seria compreensível se fosse distinguido com a "Ordem da Esponja Branqueadora" ou, para encurtar a designação, da "Lixívia", ordens honoríficas que julgo (ainda) não terem sido criadas, mas que teriam muitos putativos candidatos à sua outorga...

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