CGD: Ir à lã e ser tosquiado….

A senda revanchista tecida à volta da CGD e alimentada pelo PSD insere-se na narrativa que Passos Coelho tentou contar aos portugueses quando assumiu a responsabilidade governamental em 2011. 
Esta baseava-se num entorse histórico de que tudo o que foi feito durante este século em Portugal estava mal e o Governo de Direita iria mudar tudo para obter uma sólida sustentabilidade. Ao fim de 4 anos a única coisa que nos deixou foi um insustentável empobrecimento.

A CGD é um banco público e qualquer posição do PSD sobre essa circunstância faz soar campainhas. Aliás, sobre a CGD os primeiros remoques surgiram na pré-campanha eleitoral para as Legislativas (Julho 2015) quando Passos Coelho levantou a questão à administração de não ter efectuado qualquer reembolso da ajuda pública link. Estava dado o primeiro sinal de que o PSD se preparava para atacar a Caixa, enquanto banco público.

A par desse remoque o anterior Governo sempre deixou transpirar para o exterior que qualquer recapitalização do banco público seria considerado ‘ajuda de Estado’ e por tal motivo esbarraria com a oposição (rejeição) de Bruxelas. Os contactos preliminares do actual Governo com as instituições europeias, desde logo, começaram por desmentir esse logro.

Agora, o PSD vem fazer o papel de virgem púdica sobre os devedores à CGD. Tinha conhecimento dessas ‘imparidades’ (belo nome!) desde meados do ano de 2015 link mas como se aproximava o período eleitoral manteve-se calado.  Como se manteve quedo e mudo com o (extenso) rol de devedores ao BES e, mais recentemente, em relação ao BANIF. Para não falarmos de clique cavaquista que espoliou até à medula o BPN.

Independentemente das negociatas que se fizeram à sombra da CGD – e foram muitas – no actual momento político a defesa de um banco público não pode ser ensombrada por derivas neoliberais, do tipo das que estarão na mira dos proponentes da Comissão de Inquérito.
Esta chicana política arquitectada pelo PSD não servirá para apagar as posturas que desde 2011 o Governo Passos Coelho adoptou relativamente à alienação de activos (Seguros, participações em empresas link, etc.) que, na realidade, foram - em termos de sustentabilidade e de futuro - manobras de descapitalização e adensaram os problemas da CGD.

O PSD sabe que nos últimos anos cobriu todas as ‘imparidades endógenas’ do sistema financeiro injectando, de braço dado com a Troika, mais status quo, enquanto, na praça pública, agitava o slogan de mudanças estruturais na Economia. As Comissões de Inquérito ao BPN e ao BES revelaram factos muito graves mas, na prática, não tiveram quaisquer reflexos nos mecanismos e na eficácia da regulação. Muito menos na prevenção como viria a confirmar o ‘caso BANIF’. 
Em vez de persistirmos nas ‘resoluções’ (à custa dos contribuintes) de bancos, um a um, impõe-se a clarificação e regulação clara do seu funcionamento e a resolução definitiva do sistema (bancos, mercados financeiros e bolsas). Hoje, o PSD ao enveredar por estes caminhos mostra querer entrar num pantanoso terreno em que a fadiga dos cidadãos é enorme e a desconfiança campeia.

Mais do que chover no molhado, isto é, diagnosticar o já identificado (desde 2008) é necessário ‘disciplinar’ – é este o termo exacto - o sector financeiro. E essa disciplina passa pela supremacia das opções políticas situação que tanto assusta um PSD, rendido aos mercados.
Não basta, nem colhe, regressar ao passado – cada vez mais longínquo – e culpabilizar os Governos de José Sócrates e a administração do BdP nos tempos de Vítor Constâncio.
Trata-se de malhar no ferro frio e, pior, revela que tendo sido diagnosticadas as falhas e os erros, o Governo de Passos Coelho persistiu, no último ciclo governativo, em 'alimentar' o mesmo esquema.

Paira no ar a sensação que todo este rebuliço poderá desembocar no velho ditado de ‘ir à lã e ser tosquiado’.

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