Silly Season – Indeferido

Naquele tempo os juízes não podiam alvitrar quem os Governadores Civis, designados pelo ministro do Interior, podiam nomear para presidentes das Câmaras Municipais.
Nesse tempo, num concelho a norte de Viseu, chegou aos Paços do Concelho um edil de letras grossas, temente a Deus, respeitador da ordem e cuja política era o trabalho.

Um amigo pediu-lhe autorização para construir uma casa num terreno deixado pelo pai, quando se finara, e logo o autarca lhe garantiu a autorização. Bastava entregar os papéis na Câmara.

Algum tempo depois o presidente reparou que tinha perdido o amigo, que este o evitava e deixara de lhe falar. Indignado, foi pedir-lhe explicações do insólito comportamento, ouvindo o que não gostou, pois tinha faltado à promessa e negado a licença prometida.

Que não podia ser, que nunca trairia uma promessa, que jamais obstaria à construção da casa – garantia o presidente –, e para provar a sinceridade convidou-o para ir à Câmara e ver o ‘processo’ que assinara. Lá estava o dito processo com uma palavra manuscrita: “Indeferido”, data e assinatura.

- Vês? Ainda por cima és mentiroso. Indeferido!

O presidente, apercebendo-se do equívoco, logo acrescentou “vírgula, para que sim”, e remediou o mal-entendido. “Indeferido, para que sim”.

E, chamando o contínuo, mandou-o entregar o processo ao engenheiro das obras.

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