Hillary e Trump – As eleições americanas e o desvario coletivo


A nação mais poderosa do mundo serviu-nos o mais deprimente espetáculo, próprio do país capaz do melhor e do pior. De um lado, Wall Street; do outro, a Disneylândia. O medo de Hillary e o terror de Trump decidiram o voto. Entre o aldrabão imprevisível e a competente agente do capital financeiro, a América preferiu o cancro à SIDA.

O Mundo dividiu-se em quatro categorias, acompanhando os eleitores autóctones: – os indiferentes; os que gostariam que perdessem os dois; os que queriam a vitória de Hillary, para derrotar Trump; os que apoiaram Trump, para destruir Hillary. Sabe-se o que sucedeu.

Os Democratas apoiaram a mais bem preparada para defender os interesses dos americanos e os Republicanos o mais capaz de fazer mal ao mundo. Incapazes de suportar uma mulher, depois de um negro, durante 8 anos, entraram em desespero e defenderam o pior.

Entre uma cínica inteligentíssima e o rancoroso indigente mental, os Republicanos esqueceram Lincoln e entregaram-se a um aldrabão mitómano, insolente, reles e perigoso.

A América profunda, que defende o direito ao analfabetismo e ao porte de armas, teve nas divergências internas da CIA um aliado. A América racista, xenófoba, isolacionista e patriarcal, a versão grotesca do mundo do Antigo Testamento, encontrou no robô que soube fugir aos impostos e ganhar dinheiro, o seu modelo. A América sofisticada, culta e cosmopolita, perdeu.

Os que não têm cabeça votaram em Trump, com o coração; os que não têm coração votaram em Hillary, com a cabeça. A cabeça é um adorno de cada vez menos gente.

O Pentágono, como sempre, vai decidir a política externa. Sentir-se-ia mais seguro com a previsibilidade de Hillary do que com a bipolaridade de Trump, mas as eleições são o que são.

O FBI já não precisa de fazer a Hillary o que o Brasil fez a Dilma. Em países onde Deus fez o mundo em seis dias e ao sétimo descansou, não há dias de descanso para uma Eva.

Finalmente, triunfaram os que não têm cabeça. A América preferiu o aldrabão. O mundo ficou mais perigoso, à mercê de Trump. Tudo o que podia correr mal, correu ainda pior.

É a vida. Talvez a morte. Ou o Apocalipse pedido nas orações dos evangélicos.

Comentários

Manuel Galvão disse…
Acho que o que se passa nas democracias ocidentais é uma perda de poder real do lado dos circuitos formais do Estado (dirigentes eleitos -> Justiça -> polícias -> Forças Armadas). É que não é possível fugir à lei: “O Poder está na ponta das armas”!.Quando os dirigentes eleitos deixam de ter o poder de mandar nas polícias e forças armadas, transformam-se em palhaços a fingir que mandam e não mandam nada.
Nos EUA o que aconteceu foi que a USArmy já não responde às ordens de quem manda formalmente naquele país. Respondem isso sim aos apelos dos grandes grupos económicos que atuam na diáspora da globalização. Só agora os elementos do Tea Party, genuinamente americanos, perceberam que a globalização pode não ter sido uma boa ideia também para eles.
Trump é uma consequência desse descontentamento. Hillary opõe-se-lhe ferozmente pois é a representante dos mega grupos económicos que controlam a USArmy . Ela tenta dizer-nos isso quando se gaba de ter sido o cérebro da invasão da Líbia. Outro indício de que assim é, é o facto de Hillary, enquanto secretária de estado, se ter recusado a usar o site “????.gov.eu” para enviar e receber mensagens oficiais, tentando evitar o escrutínio dos orgãos de poder democrático eleitos daquilo que andava a fazer. Em Março de 2015 Netanyahu discursou no Senado americano SEM SER CONVIDADO! Quam tem e quem controla as armas é que manda! O resto é conversa...

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