António Barreto e as magistraturas

António Barreto (AB), o sociólogo, é um dos mais influentes intelectuais da direita portuguesa, apesar da ingratidão desta. Limita-se naturalmente a exercer o inalienável direito de cidadania a que todos temos direito, mas sem merecer os encómios que lhe prodigalizam.

A violência com que ataca a esquerda, sem cair na boçalidade da direita que ora dirige o PSD e o CDS, faz dele uma referência política credível, ampliada pela alegada isenção partidária, uma confusão entre a ausência de inscrição partidária e o ressentimento político.

AB foi militante do PCP, de onde saiu pela esquerda, por considerá-lo pouco revolucionário, e fazer, depois do 25 de Abril, a viagem pelo bloco central, como deputado e ministro do PS, até se passar definitivamente para a direita, desiludido com um partido que julgava poder liderar.

Em 1979, AB juntou-se ao [PPD/PSD + CDS + PPM] no Movimento dos Reformadores, com José Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares, tendo a glória de ter participado na AD (Aliança Democrática), na primeira vitória da direita depois do 25 de Abril.

Está, pois, justificada a acidez do trânsfuga contra a esquerda, onde via amanhãs que cantam, para acabar clamando ao serviço de quem chora o ontem, incluindo um merceeiro holandês.

Nos domingos debita uma homilia escrita na página 2, do DN. Só o hábito de ler o jornal diário, hábito adquirido aos dez anos, com o meu pai, me impele a comprar o exemplar de domingo e a acabar por ler AB, para saber o que pensa a direita culta e civilizada, embora nem sempre a verdade acompanhe a qualidade do fotógrafo e do prosador.

No domingo, depois de divagações várias, escreveu: «Já o PCP tem indiscutível influência nos sindicatos e nas instituições públicas como os serviços de saúde e de educação, os funcionários, as magistraturas ou as polícias.» (sic).

Não me surpreende a acusação gratuita, só estranho o silêncio do sindicato dos magistrados do Ministério Público e, sobretudo, do dos juízes, sob o pseudónimo de Associação Sindical.

Já alguém pensou no alarido que teriam feito se a acusação de sinal contrário fosse feita por uma personalidade de esquerda?

Declaração de interesse: tenho discordado repetidamente da existência de sindicatos de magistrados, especialmente de juízes, por pertencerem a um órgão da soberania.

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