A UE, o Brexit e as eleições britânicas...

A primeira-ministra Theresa May acusa a Europa de se “unir” contra a Grã-Bretanha link.
 
Na realidade, a saída do Reino Unido não foi orientada em relação a Bruxelas, ou a Estrasburgo e, muito menos, visava Frankfurt (onde nunca lá esteve).
Muito embora a maioria dos países europeus tenha razão de queixa dos órgãos centralizados da União (Comissão Europeia, Parlamento, BCE e Conselho Europeu) uma coisa são as derivas administrativas e burocráticas, outras serão os instrumentos de diktat e as almofadas financeiras para camuflar dominâncias (Norte/Sul) e os superavits (os défices do Sul) e, finalmente, sobram indícios de um projeto europeu concebido, há largas dezenas de anos, e presentemente em situação de um enorme 'stress' (democrático e institucional). Quem desiste de lutar perdeu antecipadamente e, com certeza, terá um lugar obscuro na (pequena) História.
 
O ‘exit’ britânico foi concebido e executado (‘desconstruído’) em relação à União Europeia. Não foi dirigido aos 27 países europeus, cada um per si. Portanto, as negociações têm forçosamente de decorrer tendo em conta uma frente unida (a não ser que a UE seja atraída pelo espectro de um alegre suicídio).
 
A ilusão de que o Brexit será um passeio fácil foi um (falso) argumento referendário e volta a ser uma das bases da ‘apressada’ convocação de eleições gerais no Reino Unido. Mesmo assim e procurando beneficiar de uma conjuntura favorável para os conservadores (tendo em conta as abissais divisões no seio do Partido Trabalhista) muitos britânicos já se terão apercebido do ‘molho de brócolos’ onde se meteram link.
 
Na realidade, o que deve preocupar a Grã- Bretanha é a instabilidade e fluidez da situação política internacional. Londres não podia prever que as alterações em curso (nomeadamente Donald Trump alcandorado a ‘boss’ no comando da política mundial), gerassem tanta instabilidade.
Não será só instabilidade que perturba o nº. 10 da Downing Street mas, acima de tudo, a espiral de imprevisibilidade, mais uma vez, subsidiária dos resultados das eleições norte-americanas.
 
O risco de o Reino Unido entrar num processo de fragmentação (situação na Escócia, Pais de Gales e Irlanda do Norte) e de ficar isolado, no meio de uma tempestade global, não é despiciendo.
 
As (muito) próximas eleições gerais britânicas para além do oportunismo político que encerram pouco devem adiantar no esclarecimento e resolução da intrincada questão do Brexit. Para Theresa May as eleições não serão a revalidação (ou o reforço) do referendo e para Jeremy Corbyn não funcionarão como um ‘contra-referendo’. O melhor que poderá suceder nestas eleições será o 'afundamento' da direita ultranacionalista do UKIP (que parece ter esgotado a sua 'motivação').
 
A sorte está lançada (a não ser que as eleições francesas tragam algum imprevisto) e as eleições britânicas estão cronologicamente ensanduichadas pelas francesas (Maio) e pelas alemãs (Setembro).
O libelo foi esgrimido em Junho de 2016 e, o marasmo negocial - entrecortado por ameaças veladas e troca de galhardetes - vai entrar num sombrio ‘cul-de-sac’  e marinar por muito tempo.
 
Theresa May tenta ensaiar uma fuga em frente. Nada de imprevisível no jogo político ou que deva impressionar a União Europeia que, nos próximos tempos, vai estar ocupada com a perigosa imprevisibilidade de Trump, o imbróglio da guerra na Síria e o reacender da 'questão russa/ucraniana/Ocidente'.

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