A História e outras histórias

Há a História escrita por historiadores e a história contada pelos redatores dos manuais escolares. A primeira é uma ciência e baseia-se em documentos, a segunda é o veículo de propaganda de quem detém o poder. Raramente coincidem.

Nos 4 anos da instrução primária aprendi na catequese a odiar judeus, hereges, maçons, apóstatas e comunistas. Na escola juntei aos ódios de estimação, e sem necessidade de rezar contra os destinatários, os moiros e os castelhanos. Aos 10 anos, já fustigado com quatro sacramentos, fiz a comunhão solene, vestido de cruzado.

Na Bouza, ali em frente de Escarigo, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, vi um manual escolar espanhol que desprezava a batalha de Aljubarrota e glorificava, entre outras, a do Toro. Era de uma prima e amiga, da minha idade, a quem chamei a atenção para os erros do livro por onde estudava. Levei-lhe o meu livro da 4.ª classe e disse-me que os livros portugueses só diziam mentiras.

Nessa altura, como ela era espanhola, e eu desconhecia que era castelhana, continuámos amigos, mas convictos das mentiras que se escreviam nos livros do país do lado de lá da fronteira de cada um de nós.

Mais tarde aprendi que há um só povo e que é injusta a distribuição da riqueza, não só dentro de cada país, mas entre todos os países do mundo. A idade fez-me refletir sobre os interesses que dividem os homens e as nações, as justificações que se inventam para explorar a mulher e a quem aproveita a miséria de milhares de milhões de pessoas que continuam a reproduzir-se como se o Planeta tivesse recursos inesgotáveis.

Nada é mais aglutinador do que um inimigo comum e o ódio que une os bons contra os maus, sendo os primeiros os que estão do lado de dentro da fronteira que limita cada um dos lados, seja onde for, qualquer que seja o pretexto, onde quer que se invente o lado.

É precisa muita fé para tanto ódio!

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